Mil olhos

Eu quero fazer um mosaico das suas fotos
para contemplá-lo em preto-e-branco, amarelo e vermelho
para te ver da infância à velhice, do sorriso ao choro

E fazer poemas com as suas nuances, seu tom de pele,
seu cheiro de verniz, quero o apodrecer dos anos,
das fotografias cheias de vinco, e dos vínculos de atriz

Quero ver seus olhos abertos de alegria, iluminados sob o sol
e a saudosa maestria, por tanta nostalgia, te admirar dormindo um sono profundo

Quero nesse momento demonstrar que você não é foto de cabeceira, mas que incendeia de lembranças
e por isso, criança, eu quero colecionar as suas imagens na minha sala de jantar, porque enquanto degusto o alimento
recebo amigos em casa, faço festas, cerimonias e encontros, abaixo dos seus olhos quero sempre estar

Para que na eternidade da sua imagem, você perceba que eu nunca te traí, mas que os seus mil olhos
-fechados ou abertos, sorrindo ou chorando, iluminados ou tristes –
possam me condenar, se um dia eu ousar tal feito, e que a dor consuma o meu peito
de remorso pela culpa por um dia isso cogitar

Coisas de colegas

Quando você não me disser coisas chatas
para me poupar das tristezas da vida, minha vida
a minha, não terá sentido

Preservar um amigo do sofrimento de outro,
é atitude de colega, meu caro, e não raro,
essas amizades maquiadas terão um fim raso,
por mais nobres que forem as nossas intenções

Não é problema trazer problemas aos amigos, (aos amigos!)
o que nos falta é confiança da lágrima corrida, ou a gente aprende a secá-la
ou será corrida a nossa tentativa de companherismo, e ainda mais sofrida
a amizade perdida pelo caprinho da ironia….

Da ironia de querer ser amigo, e ter atitudes de colegas,
buscando mostrar apenas o que nos interessa….