O que eu conheço de mim
não é nada na humanidade.
Se descubro um homem,
não descobri todos

O singular sou eu, individual,
mas eu não sirvo de amostra,
não sou útil em estatística…
Como linguísta também passeio na área
matemática

Sou ciência humana, sou palavra,
sou expressão da minha vivência,
minha própria marca registrada
é a forma como disponho calada
cada fala que um dia vai ser proferida
na leitura erudita de um poema
que não disse nada de mim nem de ninguém

É só arte que não cabe no só

Quando o poema acorda

Enquanto dorme o poema no meu peito,
enquanto respira um sonho tranquilo…
Feito por mim não foi ainda

Depois que despertar leve e suave,
o poema vai abrindo os olhos d’alma,
sereno e turvo, não sei qual palavra…

Escolha, acolha comigo cada verso,
recolha da cama o que vem amanhacendo!
É mais um dia que começa para uma nova estrofe

Com sorte a sensibilidade não tem nada de flor,
aflora em tudo, sendo um instante de vida nova
que vive enquanto o poema anterior já deitou
em todas as suas escolhas sintgmáticas
pra descansar eternamente…

Quando crescer

Na fase adulta do corpo pequeno
perguntam o que eu quero ser quando crescer.
Muitas respostas na ponta da língua
a confusão é certa, uma graça de artista,
que quer ser múltiplas coisas
quando a espera é a uma só resposta

Na fase pequena do corpo adulto
já não há resposta para o que eu vou ser amanhã,
eu já não sei quem eu sou, nem espero mudança…
Conformado com um passado que não realizei,
sei que não tenho resposta alguma para múltiplas perguntas..

Dirigida

Beberiquei do seu sabor por uma noite,
coisa pouca, quase nada, condenada
a ser vista de exemplo por consolo e sorte

Dirijo sem pressa e sem destino
já que nosso carinho foi interrompido,
pois já eram sabidas algumas horas sem contrato

Nada refresca a minha garganta ressequida,
imprimo mais força ao carro na subida…
Esse porta-copos próximo à marcha não guarda
nada que seja suficiente para a minha dolorosa solidão

A esperança sempre fala mais alto – Por que não? –
de ter uma surpresa, novidade, em contrapartida…
Você frustra qualquer mirabolante expectativa
que minha mente projeta para o nosso projeto-saída

Fui vencida, suprimida, não digo nada além;
não sou dramática, nem suicida, ao além
não vou tão cedo, apesar de pensar em escape

O amor enlouquece qualquer um que queira
jogar uma partida… Sou contrariada…
você contra-ataca… E eu atacada…
Escrevo na colina, colhida de remorsos
que só cabem em mim, culpada dos fantasmas
de uma letra mal escrita, válvula de escape
de uma vida não dirigida.

Então…

Então eu sei do que somos capazes
quando acreditamos que podemos…
Então eu já sei das dificuldades
quando nos queremos perto estando distantes

Então eu sei o quanto persistimos,
contra a maré, nadamos e andamos
ouvindo “sim” em muito “não”,
jamais desistiremos

Então eu sei que a maioria não compreende
o que só você e eu vivenciamos, desculpem,
eu peço desculpa aos tolos que não não poucos,
verão, eles todos, o quanto se surpreendem

Está pensando que vai sair impune?
Então… eu só queria saber
se você queria casar comigo…