Sem mil vezes dizer que amo

Tem alguma coisa me incomodando,
há algo que me aquieta, mas a palavra
não laça e não sossega

Tem alguma ira, um desconforto contido
sei que isso não me pertence,
nem nunca andou comigo, perigo

De que minha armadura linguística
se quebre, sou tudo, o todo
de uma peste que se propaga,
sou vaga, mas também
mágoa que não aceita o castigo
de morar enclausurada no fundo do peito

Sou toda palavra que o corretor,
redundante, marca de vermelho e corrige
sou a falta de controle que o cérebro agride
a mente, a mão, sou de um turbilhão….

Gira, arrasta, carrega, sou cega,
perdida, sou fita perdida no vento,
um lamento do passado preso na garganta,
sou a manta que não aqueceu,
sou seu sem ter sido,
sou um inconformado escondido
no amor que não disse, sentir
senil