Saudade em verso

Pelo reflexo do espelho
vejo a caneta correndo
alucinada, toda torta
em desespero

Relataram a Deusa
que foi embora
e deixou seus lindos versos
– ora, não li nenhum

Emocionado, eles me tocaram
pela fala saudosa de
terceira pessoa

Há por todos o respeito
da simplicidade daquela
alma que não deixou
ninguém

Presença incontestável,
em nosso meio respeitada
pela arte e pelo zelo,
apreço pelo belo que
surpreende a passagem
do tempo e do verbo

Óculos

Para Flávia Marques, colega de classe do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas do Instituto Federal Fluminense, primeiro semestre.

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Há em mim uma semente
germinando latente
querendo você

Há em mim qualquer
tentativa de acolhida
corrida das palavras…

Em versos arrumadas,
sem querer parecerem vagas,
oh, ou, pobres-coitadas!

Na palma da mão, o beijo;
Da delicadeza do desejo
de quem ainda cumprimenta
damas da realeza…

Ainda que você não se dê conta
– tem que se dar conta –
da sua beleza!

E não recorra a nenhum conto,
nem mascare seus desencantos
com maestria, que mesmo assim
eu lhe respondo sem falsa companhia

Mesmo que você se finja de ponto,
vou fazer de você mais outros dois pontos
sem querer explicar nada, contínuos

Continuo contigo propondo
enquanto você se vê finalizando,
eu, apenas reconheço recomeços,
voos longos sem máscaras à aparência

Pareço quem sabe louco, que me diga,
não me importo, oportuno é deixar claro…
O que é claro como o vidro dos meus óculos:
Sua beleza que enxergo, sem exageiro dos quatro olhos

Estações diferentes

Para Marilia Siqueira, Letras/Literaturas, Instituto Federal Fluminense, Leituras Orientadas I, Primeiro Semestre.
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Eu preciso ver a poesia
no que você apresenta,
preciso trazer para o meu mundo,
mesmo que pareça fora de contexto

Preciso arrumar um pretexto,
um precioso desejo de me encantar
pelo que você faz, fala, demonstra

Eu quero, necessariamente,
o lirismo, a sutileza
que toca na alma
e não apenas à mente

Não minto para você,
não preciso ser conivente
com o que eu não entendo

As nossas razões não se compreendem,
alguém precisa ceder, um de nós;
Ou nós dois, quem sabe

A música pode tocar em estações diferentes,
mas vem em momentos díspares parar em cada ouvido.
A você eu grito para que me escute de longe;
ou você para o passo para que eu a alcance

Sintonia nós temos, não nego
falamos do mesmo assunto,
temos o mesmo gosto, espero
tentamos nos entender no mesmo espaço

Sincronia é o que nos falta
poesia na mesma hora,
o entendimento do mesmo verso
para que o debate não fique vago,
e nós não divaguemos nos debatendo

Transfiguração

Coloco Deus na frente
e os aliados me cercam,
iluminam minha mente,
tirando-me das sombras

Parado não fico,
sou útil e vivo
me preparando
para as coisas do bem

O caminho é intenso,
não dói nenhum momento
as muitas tarefas propostas

De resposta o meu corpo
coleciona apenas cansaço,
mas minha alma não se importa,
diz que sou feito de aço!

O espírito agradece,
o conhecimento enriquece,
liberdade que emocionada,
transfigura o corpo,
enaltece a vida
que transborda!

Mania de perseguição

A sombra dá medo
era alguém escondido
querendo lhe assaltar

O colega de trabalho fofoca
sobre uma atividade que não lhe compete
e nem lhe interessaria

O amigo é falso, traidor,
se indica pra uma promoção
mas pede segredo a sua companhia
para lhe inscrever

A caixa do supermercado, implicante,
passou uma lata de ervilha
duas vezes, sem querer, de propósito

O semáforo está sendo consertado
em hora indevida só pra atrapalhar
a sua ida pra casa

Até o banco vinte e quatro horas
parou de funcionar pra lhe prejudicar,
não importa se o estabelecimento fecha
vinte e três e trinta

Se a gasolina sobe,
não é falta de sorte,
o dono do posto
não foi com a sua cara

Se o garçom não passa na sua mesa,
nunca mais volta no restaurante
pouco importa se ele está
sozinho no trabalho,
por causa de outro colega que não veio,
estava com a mãe no hospital

E não interessa se até a chave de casa
não está no seu bolso…
Culpa do seu amigo que lhe distraiu,
ao apertar sua mão e ir embora,
esqueceu que naquela hora
a chave ficou em cima da mesa do bar

Mania de perseguição, loucura!
Tratamento nessa altura do campeonato
não seria também causa de punição?

Pedragogia

E não me falem de pedagogia,
não aguento mais essas teorias,
tudo se mistura, não adianta

Só mesmo sendo muito sem sentido
para separar a educação em ritos
de tortas evoluções

Ainda se transmite conhecimento
na linha reta entre professor e aluno,
tradicional ainda, mesmo com tanta informação

Escola, de nova, não tem nada, nem a fachada
para fazer política, nem para isso tem servido…

Olhem cá o meu umbigo, e digam
se pensam mesmo no aluno, que nada!

Não me convencem estes tecnicistas,
cientistas da educação que pensam
na contramão da realidade,
a burocracia, a ironia de colocar no papel,
processamento surreal de aprendizado

E cá vou eu nos meus resumos poéticos
tratar também das teorias não críticas,
expressas nos versos acima, a utopia
de mudar o mundo com a escolarização

E os pessimistas dirão que não há volta,
que a escola é um ato de manobra
para firmar rico no alto, e pobre abaixo,
confirmando a marginalização

Fiquem então associados que os coronéis
do Estado pressionam os currais enfileirados
para colocar o professor de capacho
vendendo ideologias compradas,
fazendo-os acreditar que vão mudar tudo,
aspirando o mundo melhor

Que ironia, está tudo programado
até esta proposta de poesia crítica
seria crítica mesmo, ou era esperada de mim
está revolta, esta ira em versos
para registrar o quanto eu quero
cooperar com o sistema da educação?

Estou estudando por mim
ou para cumprir etapas de um processo
já arquitetado, pensado para corroborar com
doses de perseguição e manipulação em massa,
tendo a audácia de chamarem isso de revolução
para um país, paradoxalmente, sem educação?

Pedragogia no meu sapato!

Aperfeiçoamento

E volto ao papel seis anos depois
para registrar nesse mesmo espaço
o que o meu desejo gritou anos antes,
aconteceu

E fica neste espaço o que meu pensamento
forte e insistente solicitou profundamente,
atendimento depois de muita preparação.

Nesses frios corredores o que era
quente em meu peito um dia, derreteu!
Causando delírio constante
enquanto palavras escorrem

E fica aqui o meu alerta de compromisso
para não ser ingrato com o destino
que, sabendo o melhor pra mim,
presenteou-me com o melhor disponível
para que hoje eu pudesse ser lapidado de novo,
em um aperfeiçoamento contínuo

Lançamento

Hoje anoiteci com vontade de lançar um livro.
Eu sei que para o autor é complicado.
No presente lanço o meu eu do passado a um futuro incerto.

Aqui está a grande questão.
Lançamentos são pegadinhas do tempo.

O que me vale mesmo é render homenagens,
hora de reunir pessoas especiais
para declarar tudo o que vem antes das palavras

Os versos não são nada sem as pessoas,
mesmo que elas não se deem conta disso.
em momento algum.

Vejo diante de mim amigos queridos,
pessoas que mereciam este lugar,
este meu momento de destaque também.

Porque eu preciso de cada semente
de sentimento para mostrar aqui, nesse momento,
o valor de cada um, de cada um, de cada um!

Vou falar o que me der na telha,
sabendo que hoje não merecerei puxão de orelha,
por nenhum descuido com essa tal Portuguesa
companheira antiga de cada um de nós

E direi com liberdade, com isenção poética,
daquele que mesmo sendo lapidado na própria língua
não se deixa domar por qualquer rima mais simples

E nem tão pouco vai elevar o vocabulário
para demonstrar que este operário aprendeu alguma coisa,
não preciso de exibição, não.

Aqui fica apenas a constatação do ser,
puro e simples, ser oportuno do que cria,
e não escravo da criação

Confessionário

Para Analice, professora de Teoria da Literatura, Licenciatura em Letras, primeiro semestre do ano letivo 2013.1, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

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Eu gostaria de saber quais palavras usar para esse poema.
Falta a palavra ideal, a pontuação correta,
a entonação no papel para este poeta.

Tudo deixou de ter ordem agora, e isso inquieta.
Talvez seja esse o princípio da inspiração, ou não.
Este congelamento de como dizer, vem de antes.

Porque a inspiração já é um estudo esquematizado
do que a alma expressa, já há um conceito.
Aqui não existe tentativa nenhuma de lucidez.

Nem mesmo na escolha de verbetes.

O dia em que se cala o poeta,
em seu próprio poema,
é o dia em que ele se rende
a sabe-se lá o que, ainda não inventado.

Um sentimento tão forte, e tão desconhecido,
que seria audácia do instinto de escrita,
até mesmo para ele, colocar isso na roda.

Nesse momento a sensação que se tem,
se me permito então qualquer alusão
ao que está terreno, tocável, seria:

Duas torneiras que se abrem,
e a medida que se desce o elevador,
cai uma gota no interior, morando a essência,
e uma gota mora nos olhos, mas não cai

É a emoção no encontro, no ponto…
O oceano que transborda por dentro
não tem a mesma água do mar que salga o olhar

O dia que se calou o poema,
que se trancou o verso no inverso
do desconhecido, calou-se qualquer sentido
de escrita, porque ela limita – muito –
o que se sente, e o que se pinta na sua mente

A palavra agora deixou de ser companheira confortável,
para ser qualquer outra coisa que coça, que provoca,
qualquer outro sentido disperso,
dispenso qualquer nova loucura de dar rosto a essa bela criatura
que não se diz poeta, sendo poeta sem palavra alguma

Afinal, para calar o poeta das palavras
é preciso a poetisa dos sentimentos
que desperta no primeiro o desejo
de capturar a segunda de algum jeito

Ainda não disse tudo:

Não sei se por conta
da delicadeza, jovialidade de espírito,
não sei se o assunto contribui pra isso,
mas querendo ou não, merecendo, ou não,
há naquela que cala o poeta a chave

A autoridade suprema de destravar
duas possibilidades de ver o mundo:
Aquele que toco, que vejo, que recorto em palavras;
E aquele que eu não me lembro, está intocado pela matéria,
por tantos eus poéticos, por mais que se tenha mil personas,
não alcanço o que me trouxe até aqui, o que me fez ser assim,
nem consigo dizer até onde tudo isso deseja me levar.

Aventureiro das Letras

Eu tenho recebido o toque das artes,
a música que embala o meu coração,
essa sublimação, onde a alma desperta;

Acorda alma minha, acabou o descanso,
até descalço, não que seja um descaso,
eu entro em sintonia com o que vem guardado.

Eu que me julgava um frasco quebrado
tenho me juntado no perfume que fica no ar.
Na melodia, no verso arremesso o que subiu,
a dita espiritual hoje canta pra subir
– e subiu, e tomou o controle do meu destino

E nos olhos, a janela está aberta,
as portas, qualquer que seja a fresta…

Agora a minha vida adormecida
deixou o lado ancião morrer,
a criança quer crescer pé ante pé,
passo por passo quer escalar
a brincadeira de escrever

E vai ficar o sonho, de quando for gente grande,
um pouco mais velho – o corpo, não a mente –
que esta última queira viver o sonho
de transformar a brincadeira num esporte,
aventureiro das letras