Cólera

Sentir a palavra na pele
a mover a ira, o amor,
o ódio, o que for…
Provocar desconforto

Ser o encosto do que não se quer ler,
a obrigação do que não quer ser visto;
o meu mundo encantado está se diluindo

Vou na veia, fazer o corte profundo,
dizer que te odeio bem mais do que todo mundo,
jogar na sua cara a agressividade sempre contida,
eu não vou mais deixar você me ultrapassar na corrida

Quero que sinta o poder da palavra que corta,
cansei dos afagos, do carinho do abrir a porta
nas madrugas frias dos seus erros imundos

Espero que erre e erre de novo, que chore,
que grite, sentindo a solidão, o carinho
que você procura, não vai ter mais, cansei

Agora a minha palavra vai mostrar o outro lado meu,
o meu poeta vai ser trancado na tortura, molestado,
condenado sem regalias, sem prevenção alguma

Agora eu digo sem a preocupação da sua ferida aberta
e que ela arda, como arde a cólera quimera.

Brinde

Eu só queria ter a paz
que aqui eu não tenho
te fazer feliz demais
como é meu compromisso
mesmo que eu quebre
todos os vícios da norma culta

Ser o carinho da conduta que você espera
de uma espera sem sentido pela pessoa certa
Ser o amor que você sonha, o carinho
que te ronda, o desejo necessário

Quero ser o paraíso que você merece,
ser a resposta da sua prece no choro,
ser o louco que te aceita mesmo valendo pouco
quando na verdade não tem valor que estime

A estima que me convoca ao poema
é uma tentativa fraca, banal, pequena
desse adjetivo simples de poeta
para um sentimento que não se quebra
em pequenas e boas palavras

Não sei contar meus veros,
os poemas já perdi a conta,
mas meu amor por você não basta
nem nesta vida cancelo a compra

Oferta imediata e prontamente aceita
sou seu amigo, amante, namorado
o que você quiser que eu seja,
mas eu não troco por nada,
esse brinde surpresa

Que é o melhor presente que eu já ganhei
e mantenho guardado, um mimo, uma sutileza
que é ter recebido a honra de ter sua vida
relacionada à minha, em um combo de certezas:

De que qualquer palavra é mínima,
qualquer sentimento é pouco,
qualquer aperto no peito é a saudade
que tem me deixado louco

De que qualquer lágrima é apenas uma água
que não me afoga, nem me mata a sede,
que eu não faço nem a metade do que minha alma tem vontade
pra te proteger, cuidar, preservar no infinitivo,
infinito de mim, imperativo de você, minha ordem,
minha hora, minha honra sem medida, sou parte
de uma parte da sua vida que caminha com a minha…

Pesar

Não esquece da minha poesia
eu estou morrendo, não esquece
do meu riso, da minha rima.

Por favor, não esqueça
que cada letra era sua,
estou partindo nesse instante,
sinto muito ir embora
sem me saciar do que eu tenho a dizer

Sempre tenho mais alguma coisa a falar,
ou melhor, a escrever, mas o tempo
já não me cabe mais um verso

Está dizendo que é hora
de deixar as palavras mortas
sempre vivas, o poema
não escrito na eternidade
do pensamento

Eu estou morrendo
e não tem nada além
que somente o meu amor
por todas vocês,
minhas queridas palavras,
por vocês eu vivi
e mesmo morto