Carinhos

Estou querendo o seu carinho,
não digo nem seu beijo,
pode ser um sorriso,
pode ser um gracejo

Não precisa ser um abraço,
eu sei que dois homens sentem medo,
do afeto mais próximo e do contato,
mas não conseguem reprimir nenhum desejo

Pode ser o seu olhar pesquisando descontraído,
pode ser a mordida no lábio, verdadeiro sinal divino,
pode ser o seu passo, bem mais retraído
só pra me ver passar, só pra me saber acolhido

Não precisa ser nada aos outros demonstrado,
entre a gente, pode ser o escondido,
pode ser o calor velado nas maçãs do rosto,
pode ser o caminho colorido

Não precisa estampar tão abertamente no frio,
que eu sei, a carência também nos causa arrepio,
mas o calor da alma é tamanha, tão grande o sonho,
o sonho do momento mágico e sublime,
eu sei que você sonha o que eu sonho contigo

O carinho que não se conta, o querer mais querido,
o meu prazer vem à tona, chamar você mais do que de amigo.

Boatos

Há boatos de que você se encontrou
com aquela pessoa que você não sabe que eu gosto,
mas essa pessoa já tem ciência da minha paixão,
mas não sei se ela te confessou que – talvez –
sinta o mesmo por mim, e não me disse claramente

Há boatos de alguma coisa desconhecida da minha parte,
que machuca o coração dessa pessoa que os ares confudem
e cruzam nas nossas amizades… deve ser por isso,
além de outras coisas mais, que a gente não se encara de frente,
precisando do intermédio da paixão da gente, que perde força,
mas – de vez em quando – pede força.

Mais gostoso

Se eu estiver chegando perto do que você deseja,
mande um sinal à caneta esferográfica preta
pra que o esforço seja maior se eu quiser apagar
a sua letra da minha cabeça

Se eu estiver tocando nos seus sonhos,
por favor, perdoe, não é intencional
como eu achei que fosse…
Tudo é mais natural, mais tranquilo,
algo novo…

Que eu não sei explicar, e por isso novo poema, novo!
pra ver se você pode, de quebra, me inspirar
a outra enorme centena de versos livres e soltos,
como tem sido o meu ato de amor louco, desesperado
e insensato, mas gostoso…

Luz

Eu espero que você me ache
nessas turbulências sentimentais,
eu espero que você me encontre
quando eu mesmo já me perdi

Já não sei mais o que eu quero,
eu espero… que você me mostre…
Direção, encontra a minha mão,
agora;

Já não sei quando estou bem,
qual é o meu desejo e o meu ideal.
Já perdi todos os parâmetros do que é normal

Luz

Mostra o caminho certo
ou o mais ou menos,
me leva pra estrada
que eu já não sei demais nada,
já não sei de nada mais

Só que encontrei você…
De repente, um presente…

Cante

Se você pudesse ler um poema que eu fiz,
ouvir a minha canção preferida,
me indicar um filme bom,
se você pudesse me dar um quadro,
estaria na minha parede
a memória do seu presente

Se você pudesse conversar comigo
assim, um pouco mais perto,
mesmo que nós dois não tivéssemos tempo…

Se você pudesse ser um pouco mais claro,
ainda que o seu mistério me encante,
eu sei que todos os seus dons têm se aflorado,
mas eu espero que você tente um último talento
e me cante…

Com sinceridade…

Não acreditem em poetas, eu admito e recomendo,
somos o verso da pior espécie,
a estrofe que não vale nada,
e mentimos.

Mentimos muito.
Na verdade, sofremos algum distúrbio,
talvez, melhor ainda, sofremos algum transtorno,
alguns pra ser sincero, moda desse século

Temos a sensação de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo,
poligamia das palavras polissêmicas,
não acreditem nas palavras de um poeta

O poema, esse instrumento ordinário da palavra,
tem a força da argumentação mais doce e delicada,
mas, depois não se julgue ludibriada,
falta de aviso não é

Realmente somos profundos e intensos,
mas, a qualquer momento trocamos de foco,
os nossos olhos partem para outro,
pensam em outro, respiram pele nova

E o ciclo recomeça deixando corações partidos,
e um vazio no peito de cada um de nós,
e dos dois lados, ainda continuamos sós
tentando nos unir na ilusão do discurso

Reconsiderando

Nas conversas com terceiros,
o meu desejo de segundo plano
era ter você no meu quarto,
ainda que eu soubesse de seu amor,
do seu apreço por qualquer tipinho de quinta…
Tudo dito numa sexta por sétima língua desinformada…
Quando você já era o oitavo sono,
não esperava um nono e novo desejo…
Agora um décimo do seu beijo,
um décimo de seu carinho, te traz de volta
a condição de primeiro

Gráficos

O amor é uma constante
Deve ser retilínea, não uniforme,
Mas a visto de corpo e alma,
Não alego a falta de sorte,
Nem no amor, nem nos números
Como forma autoimune da solidão

Sei que as coisas precisam mudar,
preciso viver e olhar,
enxergar por terceira dimensão…

Ainda há tempo para aprender,
Desvendar o que a matemática esconde,
de longe, me render ao amor

Porque no jogo não venço,
No amor não me aqueço,
Seu beijo não tenho, não compro
Apreço

O desejo de bem-querer fala mais alto
por um minuto descobri onde errei

Não é insistindo que convenço,
Atitudes precisam de novos rumos,
Tenho que me fazer te merecer,
Vise-versa

Para saber se o revés da paixão se anula,
nova conduta deve zerar velhas posturas,
simplificando o coração

Insisto: por que não?
Se entendo que de grave não há nenhum gráfico que me aponte,
Que o sobe e desce do nosso compromisso
– comprovado, um perigo –
não tem explicação

Estrofe

Leve
me sinto leve
se entregue
me pegue
ergue
me leve
não seja
breve
me bebe
me preserve
sossegue
orquestre
me ame
me chame
me engane
sobreponha-se
homem por homem,
consome
seu nome
sonhe-me
realize-me
compaixone-se
queime e
e, e, e,
exponha-se
com champanhe
me acompanhe
aprisiona-me…
poema eterno
de uma estrofe
sufoque-me
põe-se
poeme-se

Parte do eu

Eu sei que os meus poemas
andam cada vez mais tímidos,
andam cada vez mais raros,
retraídos

Eu sei que o cotidiano
nem sempre gera poesia,
não dessa que eu gosto,
da poesia bendita

Que fale bem do próximo,
que cultive boas energias,
que cative você, sem fantasia

Eu quero o poema real,
o sincero e tangível,
eu quero que você se veja nele,
e aceite a calmaria

Como eu aceito essas suas novidades,
como eu aceito essa sua espontaneidade,
essa sua boa vontade de me trazer alegria,
essa sua boa conduta sempre tão progressista

Eu quero realmente é essa energia franca,
eu quero verdadeiramente por perto a união,
eu quero a soma da sua mão junto da minha,
essa singela poesia é bela pelo não dito ainda

Você, sem qualquer malabares, sem nenhuma estripulia,
conquista a parte de um eu que eu mesmo não conhecia,
você, tão normal e tão humano, sabe invadir meus meandros,
sem e de forma alguma, e nem um tanto, invadir-me

Obrigado

Segunda impressão

Quem não me conhece
não me sabe, nem da metade
do que esse corpo passou,
das surpresas que a vida pegou,
julga sem saber, sem sentido
por me acharem sério e aborrecido…

O corpo reage diferente do espírito
que, mesmo maduro, não perdeu o carinho,
a doçura, nem o prestígio da companhia;
não jogou fora o dom da alegria,
a vontade de amar, a preocupação,
nem o apreço, o peso do íntimo

Quem não me conhece
não me sabe, não me percebe,
e eu, eu não peço a prece,
nem quero que você mude,
vou deixar você impune
de ter me visto, não culpo,
não, não, não…. Primeira impressão!

A segunda, a retificadora,
só pra quem merece, só pra quem sabe,
olhar os outros e ver pelo coração….