Licenciatura em Letras/Literaturas. Instituto Federal Fluminense. Teoria da Literatura II. Barroco, Arcadismo e Romantismo.
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I
Sou louca, louca,
oca de Deus,
pouco racional
barroca do macaco
homem ancestral
O demônio vive um Deus avesso,
os santos cedem e não intercedem
nem para um, nem para outro
sou uma rouca que grita
na poesia vendida, vadia da prosa
Sou o pouco que me basta
e sou o basta que diz muito
sou a rima rica do adjetivo pobre,
a pobre que se limita à épica
II
Sou mimética e árcade,
cálice de um eu que não bebe,
não teme, apenas vive
sou, por mérito,
uma tola qualquer
vivendo a vida que der
reequilibrando paixão e fé
Sou o banco da praça
que a praga não deixou
grama fincar, sou a cama
sem flores, sem amada,
sem pudores, sou só
Sou o agora que o tempo não cessa,
sou a vela que não se apaga,
nem derrete, sou mente sem deleites
que vive o hoje debaixo da chuva
sou a filha da prostituta
que não sabe do destino da mãe,
filha da mãe, da avó
III
Sou daquela que não se toca
o futuro certo que não vivi,
sou, por todos esse pretérito
do amanhã, vilã de mim
Sou a toca do jabuti
que sonha, alto, tamanha
que corre de si
Sou a fase da idealização,
apaixonada, por que não,
por criação igual a mim!?
Sou a criança que conhece seu destino,
o vício da morte viva, condenada, vendida
que a sociedade vai reprimir já nas cantigas,
a qualquer toque, quem dera, eu encoste na sua virilha
Sou filha do pecado, natureza do lado errado
mas se quero alguém do lado, que seja você
a fuga dessa loucura padronizada
eu, eu, eu amo quem eu quiser,
mesmo que não agora, sou o ontem
e o amanhã, esperando o lado
que não se aconchega no divã
IV
Sou de toda um clássico
ato falho dos movimentos literários,
tive e tenho minhas fases, coisa de fera
que muda, que sonha, que cruza e urge
Sou do tempo do século dezesseis:
adolescente como a rima que se fez,
que não reconhece a própria voz, louca, barroca
Sou do tempo do século dezoito: centrada,
curtida da vida, da mocidade que amadurece
da planta que floresce e borda outro momento
Sou vigente, virgem do século dezenove,
apaixonada e densa que deseja e não pensa,
cabeça de vento, sou o tormento do desejo
Sou as fases que se fundem, se completam,
sou marginal das cronologias, sensual
e irresponsável nos movimentos…
Sou clássica
na atualidade,
sou dualidade
romântica e rude,
como o cuspe
que mata, envenena
Sou aquilo que funde, entrelaça,
sou ave que sobe e voa rasteira e rápida,
sou mulher que transpassa os moldes,
confundida, vivida, predominantemente,
cheguei aos vinte e um