Poema Público

Baseado no álbum “Público” de Adriana Calcanhotto para atividade de figuras de som proposta por Vania Bernardo. Linguística II. Letras/Literaturas/2013.2. IF Fluminense.

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Ao mundo Público de Calcanhoto
publico estes meus versos
e peço, pego, desapego,
emprego de excitação
o ritmo, o ato, um laço
visto, me calço, abotoo
soo Mais Feliz, sou assim

Intérprete, desperte,
Devolva-me esse clímax,
essa luxúria, loucura
de poeta, candura na voz
pudera, quimera da arte,
alarde tamanho, essa doçura;

O som carregado me chama
ao meu sentimento, momento,
invento, tributo e luto
comigo e com essa voz a sós,
Maresia que vem atroz
me deixa partir, inunda assim
meu coração que ama sem fim

Vambora que esse álbum
reflete, me pede na mansidão
o silêncio, o vazio
aqui eu venho e crio,
recrio, reviro, repito
e vivo, sobrevivo,
insisto agora contigo

Sem sentido eu nado,
ardo, me completo, me calo,
me armo deitado dos recados!

Que canções desse porte me afoguem
e eu não me debato, deitado, deixo
que por Esquadros, meu mundo perca a cor…

Coisas de literaturas que conversam
por um pedido, e eu, solícito à Vania Bernardo,
atividade de figura de som vai além de linguística
querida, detém, retém inspiração enquanto ouvia
com essa chuva que cai tardia, Adriana me consumia…

Obra-prima

Quando eu vi você feliz
mais uma vez, eu me vi assim também,
outra vez

Meu coração se desprendeu do seu
sem as correntes do ciúme,
eu sei que o amor é verdadeiro
quando deixa o outro impune
pelo roubo que cometeu

Coração desarmado foi assaltado sem amarras,
de mim você foi levado por terceira alma apaixonada

E eu não cumpro prisão perpétua
de desgosto, e até aceito o outro
como amigo capaz de fazer por você
coisas que eu não preciso dizer,
nem vou revelar o quanto queria juntos,
bem mais que poesia

E não me acabo de arrependimento,
o destino eu não lamento
se você aceitou outra mão antes da minha,
a minha continua aqui pra outra forma de companhia,
porque o amor mudou de foco e de tom,
mas não deixou de ser a cor da obra-prima

Travessia

Para o amigo e ator, Darci Tomellin

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Você é a felicidade
no sorriso, na música
que traz você, refrão

Você e seu sorriso,
prenúncio de paraíso,
fascínio no olhar

E eu quero sonho soberano,
continuo sonhando com a felicidade
que passa, mas passa por você
com maravilhosa energia

Aí que percebo toda sua alma vibrante
não sei se me perco agora aqui
ou outrora, observando novamente

Poesia por você
que me faz ansioso
com garra, com cuidado,
sou um mero acaso,
eternizando o bocado…

Oh, alma linda, longe de mim
aprisionar a sua fantasia de viver,
que beleza, como você é assim?

Veio ao mundo brincando com coisa séria,
vida que leva leve, leve, leve, minha vida, leve,
é toda sua, carregue, nessas linhas minhas,
pensadas nas suas ruas, travessa, travessia em mim,
anda em minhas palavras, sorri, ri nas minhas esquinas,
pare nas minhas vias, envio, poesia travessa,
como você, você, você, como… você!

O amor do meu amigo

Para Ramon Martins, namorado de Rodrigo Moura, grande amigo.

Ele é o amor do meu amigo
o amor do meu amigo é meu amigo também
eu gosto dele como amigo, mas não como
o meu amigo gosta dele, cheio de paixão

O amor do meu amigo cuida dele
de outra forma, com mais atenção,
é mais intenso, mais seguro

O amor do meu amigo, cuidando do meu querido,
também cuida de mim, porque amigo feliz,
amigo feliz, me faz feliz também

É uma terceira pessoa cuidando de outra pessoa
que eu gosto tanto, e essa terceira pessoa
me ajuda, essa primeira pessoa, a proteger,
a guardar com requintes de amor crescente,
aquele pelo qual nós dois desejamos novamente,
e sempre, sempre, sempre bem…

Teoria da Literatura

Selecionei você
dentre tantos que me fizeram sonhar…
A diferença é que você realiza em mim
algo que nem em sonho fui capaz de chegar

Selecionei você
sem nenhuma pretensão de escolha,
sem pensar previamente,
sem expectativa, sem nada

Tudo foi acontecendo
a realidade se tornando sonho,
a vida prática é a melhor teoria

Teoria é isso daqui, a poesia
a compilação de um não sei
do que sentir, do que amar

Se é você por inteiro,
seu corpo, seu jeito,
seu sorriso, meu apego,
seu afago, seu cabelo,
seu falar, meu ouvido
que ouve coisas com sentido
que nenhum sonho sem sentido
foi capaz de me fazer acordar

Sem contrato

Ah, eu arrumei um amor
daqueles quase amigo seu,
que entendem, que curtem a vida em par

Ah, eu disse que não me negaria mais a nada,
vou viver o que chegou cheio de conversa fiada,
veio manso feito água que escorre na folha,
como passagem de brisa que sabe a hora de se agitar

Ah, que você sonhe comigo e construa
porque a sua vida também vive comigo,
e a minha respira a sua

Ah, eu arrumei alguém
que sabe sorrir e me dar alegria
com a presença que contagia,
irradia o motivo de viver junto

Ah, eu já fui cego, carrancudo,
dei as costas para a felicidade,
mas nunca é tarde pra zelar
pelo meu coração

Ah, eu vou cuidar do que me faz bem
e no momento o que bem me faz
sem cobrança, sem laços conjugais
é você, que sabe ser meu
sem contratos nupciais…

Fim de primavera

Quando seus olhos falaram comigo
gritando pra mim mais alto que o seu corpo,
aí eu notei que o amor tinha chegado
mansamente

Quando duas óticas de beleza se apresentam
e eu escolho a mais simples, a mais suave,
é sinal de que alguma coisa mudou em mim

O detalhe mais banal foi o que despertou
um carinho crescente, delicado,
armadilha convincente para a alma

Busquei o caminho mais rasteiro,
aquele olhar que eu não vi primeiro
tem agora nova proporção

Sem comentar aqui o seu sorriso,
ressalva para outro poema,
esse belo carinho largo

Vou me permitir outro verso
para seus lábios, suas pernas,
seu braço, calo, costelas

Talvez eu homenageie você
com um sem-fim de adjetivos,
vício de um nativo apaixonado

Não cale o merecimento,
simples transbordamento
dos seus olhos misteriosos

Não cale a meiguice viciante da vida,
simples como a última rosa a desabrochar
na saída da primavera que não terminou
em mim

Tese para a Mestra

Para Marilia Siqueira da Silva, professora do Curso de Licenciatura em Letras/Literaturas do Instituto Federal Fluminense, Recesso escolar. Também estudante e futura Doutora.

E quem pra mim é soberana,
agora resolveu ter novamente
o mesmo adjetivo que eu

Comigo, quase uma dona portuguesa
daquelas que sabem bem o que diz e faz,
do olhar seguro, da voz firme,
incapaz de deixar dúvida

Lá fora, muda de figura, de papel…
Enquanto avalia, espanto-me;
Quando é avaliada, tem os mesmos medos meus

Não depende de idade, tão pouco o que já sabe
– o que para mim já é o bastante para uma devoção –
esse jogo de quem sabe o que ensina e tenta entender o que aprende
– ao mesmo tempo dona do jogo e jogadora sem privilégios –

Se comigo é quase inquestionável pelo respeito que fez merecido,
sem mim, enquanto novamente aprendiz, talvez seja só mais uma
querendo o seu espaço, o seu destaque

Ora sou ouvinte, bebo da sabedoria e das palavras;
Ora sou tratante, objetivo de estudo sendo apresentado;
Sendo avaliado por um terceiro, mostrando para segunda
onde estão os seus erros;

Fato é que ainda estou no começo da escala
– talvez sem sentido, essa dúvida me mata –
por um momento peço olhares piedosos
– será que ela faz o mesmo? –

Sou exemplificador em meio as suas citações,
e por vezes, segura de si, posso até ser riso
nas situações de sala de aula

Tenho minha tese de aluno
a preocupar a tez daquela que corrige,
mas ela, não mais minha professora,
tem um teste que também preocupa,
e ali as rugas na tez dela não são minha culpa

Solidão II

Fico esperando
resposta à solidão
brinca comigo,
não sou só mais são

Outro fantasma que me persegue,
segue comigo, mas não me leve,
aceito com uma condição

Que me perturbe apenas de tempos
em tempos, que ne perturbe menos
quando eu estiver em apuros

Os meus soluços são pulos
de desespero pedindo apreço
daqueles que nunca vi

E se é assim agradeço o presente
de ter chegado gente tão boa
que convincente nas suas franquezas
é com clareza por mim compatível

Assisto ainda que incrédulo
o descuido do destino
de me trazer amigo semelhante
andante das mesmas tarefas que eu

Aplaca a solidão do meu peito
que mostro contente e refeito
o sorriso que vem perfeito
por tanta coincidência
sem freios

Render homenagem

Choro enlouquecidamente
quando entrego um poema a alguém,
é mais que render homenagem,
bem mais que isso

Choro porque doo parte de mim,
daquele sentimento que transborda,
que não apenas passa pelos olhos,
ganha vida e forma, e vontade própria

Das poesias que entreguei,
eu não me recordo das palavras
porque elas não importam tanto
quando se coloca no outro o pranto,
incentiva a alma do outro ao diálogo
por olhares e gestos que atravessam
o concreto, o palpável das palavras

Rendo homenagens para ir além
de me desarmar e romper o desamor
de um amigo, um amor, um doce de pessoa,
da pessoa que é amiga e um doce de amor

Coloco-me sem medo de ser sem armadura
para despir o outro de armadura,
coloco-me sem arma alguma para curar
o outro com as ataduras da palavra

Segue Comigo

Para professora Vania Bernardo da disciplina de Linguística I do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas, Instituto Federal Fluminense, primeiro período letivo de 2013.
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Eu tenho uma meta de vida que Deus guia
põe a Mão por cima e diz: Segue,
sua luta Eu acompanho,
você faz parte do Meu rebanho,
Vou proteger o meu amado filho
porque ele tem sido digno de proteção

Luta, segue adiante, não desanima,
Estou na frente, protejo você
de quem não quer nada,
sua vitória está selada
porque Eu vejo seus passos

Sei que seus atos condizem
com Meu desejo, aceito
que você descanse em meus braços
porque apesar de não ser feito de aço
coloca-se na frente quando Eu convoco

Filho amado, comigo siga,
agradeça pela vida e pelo coração,
vou segurar na sua mão, e se preciso for
Eu pego você no colo
porque enquanto perceber que você
diz: Oro com convicção, Eu sei,
no fundo só Eu sei,
a que Rei você recorre!

Cadeira onze

Nós nos encontramos no mesmo trajeto,
na mesma estrada nossos caminhos se cruzaram
Tomariam rumos diferentes indo ao mesmo lugar?

Vida que passa por mim e segue?
Que cegue os meus olhos e sequem as minhas lágrimas…
Se eu não cessar as minhas angústias e parar por você.

Que eu não fique pensando demais
se de mais a mais nas minhas andanças da mente
eu fui menos dono de mim do que eu queria

No banco da frente, cadeira onze
por longos instantes meu medo foi grande!
Era preciso que ele desembarcasse do meu peito

Eu precisava ter postura para não permitir
que você fosse sem saber o que sinto,
mesmo que não manifestasse ser recíproco

Mas o transporte em movimento
parecia querer parar meu coração
a medida que as horas corriam
e você não sabia que tinha meu coração

Da minha existência não sabia,
a paixão não tinha limite de velocidade,
eu sem alarde parecia caminhar sem destino…
Desconhecia que aquele rosto de menino multaria a razão!

Hora que voa, cresce o desespero,
com você de fato apenas poucos quilômetros rodados,
e tudo errado

Que trabalho para fazer a curva da timidez
e ter o retorno do seu sorriso em carisma,
contentamento…

Passado poucos segundos de susto
você não me deixou outra escolha
além de ultrapassar sem planos e de súbito,
as margens de um Rio sem afluente

Precisava mesmo era dessa atitude louca, sem cobrança,
sem taxa nem juros, apenas os breves segundos de impulso para a felicidade

E afinal de contas, a plataforma trinta e três me deu sorte,
o número onze subtraiu a solidão e da loucura, vinte e dois,
somei acima de tudo, amizade.

Saudade em verso

Pelo reflexo do espelho
vejo a caneta correndo
alucinada, toda torta
em desespero

Relataram a Deusa
que foi embora
e deixou seus lindos versos
– ora, não li nenhum

Emocionado, eles me tocaram
pela fala saudosa de
terceira pessoa

Há por todos o respeito
da simplicidade daquela
alma que não deixou
ninguém

Presença incontestável,
em nosso meio respeitada
pela arte e pelo zelo,
apreço pelo belo que
surpreende a passagem
do tempo e do verbo

Óculos

Para Flávia Marques, colega de classe do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas do Instituto Federal Fluminense, primeiro semestre.

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Há em mim uma semente
germinando latente
querendo você

Há em mim qualquer
tentativa de acolhida
corrida das palavras…

Em versos arrumadas,
sem querer parecerem vagas,
oh, ou, pobres-coitadas!

Na palma da mão, o beijo;
Da delicadeza do desejo
de quem ainda cumprimenta
damas da realeza…

Ainda que você não se dê conta
– tem que se dar conta –
da sua beleza!

E não recorra a nenhum conto,
nem mascare seus desencantos
com maestria, que mesmo assim
eu lhe respondo sem falsa companhia

Mesmo que você se finja de ponto,
vou fazer de você mais outros dois pontos
sem querer explicar nada, contínuos

Continuo contigo propondo
enquanto você se vê finalizando,
eu, apenas reconheço recomeços,
voos longos sem máscaras à aparência

Pareço quem sabe louco, que me diga,
não me importo, oportuno é deixar claro…
O que é claro como o vidro dos meus óculos:
Sua beleza que enxergo, sem exageiro dos quatro olhos

Reencontro primeiro

Faço melhor se me permite
cansei de ser só, ser triste
encontrei você com alma
simples, próxima da minha
coisa de empatia, carinho
nostalgia de quem conheço agora

Por hora, careço de explicação,
confie em mim, ou não
descobri que já lhe conheço
sem ter visto, de qualquer jeito
loucuras da visão

Olhei pra você com carinho
apostei, sem sentido,
não busquei nenhuma forma
de compensação

Não pedi nenhuma garantia
de que você de mim gostaria
amor, seria pedir demais
não me arriscaria tanto assim

Se quer saber de mim
fui louco, leviano
fiz com você tantos planos
sem saber se estaria nos seus

Mas seus olhos encantam os meus
os nossos quatro se refletem
e nós dois, em cada quarto,
vivemos trancados de coração
aberto de contradição

Mas o que importa,
o que interessa
não é nenhuma pouca promessa
de amizade, ou seja lá o que vier
não espero nada de você,
só sei que vive em mim
você que eu criei assim
perfeitamente errado,
intuição acertada não pede trocado

Trancado tenho você
liberto em meu peito
solto em minha mente
sem pré-conceito
somente um pré-desejo
de compaixão

Estações diferentes

Para Marilia Siqueira, Letras/Literaturas, Instituto Federal Fluminense, Leituras Orientadas I, Primeiro Semestre.
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Eu preciso ver a poesia
no que você apresenta,
preciso trazer para o meu mundo,
mesmo que pareça fora de contexto

Preciso arrumar um pretexto,
um precioso desejo de me encantar
pelo que você faz, fala, demonstra

Eu quero, necessariamente,
o lirismo, a sutileza
que toca na alma
e não apenas à mente

Não minto para você,
não preciso ser conivente
com o que eu não entendo

As nossas razões não se compreendem,
alguém precisa ceder, um de nós;
Ou nós dois, quem sabe

A música pode tocar em estações diferentes,
mas vem em momentos díspares parar em cada ouvido.
A você eu grito para que me escute de longe;
ou você para o passo para que eu a alcance

Sintonia nós temos, não nego
falamos do mesmo assunto,
temos o mesmo gosto, espero
tentamos nos entender no mesmo espaço

Sincronia é o que nos falta
poesia na mesma hora,
o entendimento do mesmo verso
para que o debate não fique vago,
e nós não divaguemos nos debatendo

Cartada

Está proibido
de se despir de pudor,
eu não quero mais

Essa sua atitude de solteiro,
solto aos prazeres, chega
agora é comigo…

Eu sei que esse fogo não acaba,
coisa de gente quente,
testada pela vida.

Sou carta curinga
que vence o jogo,
sei que você não é bobo

Me escolheu porque temos
a mesma sintonia,
apetite que não sacia

Finge que não sabia que era amor,
mas nas entrelinhas a gente entende,
que de inocente você não tem nada

Mas de vez em quando ser sonso
pode ser bem convincente,
uma alternativa de sedução

Eu também cansei de aventuras,
de não ter um caso firme,
mesmo que não seja cotidiano e metódico,
podemos construir o nosso próprio jogo
sem azar na partida

Não precisamos perder a emoção,
a volúpia que nos envolve,
que nos deixa em transe
com tantos caras diferentes

Mas chegou a hora de demonstrar
as nossas muitas caras para o mesmo cara,
ficar cara a cara com um só
para sermos muitos nós,
sem nenhuma amarra

 

Tentativa

Claro que podemos voltar naquela conversa antiga
podemos, sim, claro, por que não, bater na mesma tecla?
Há alguma regra que nos impeça de voltar ao passado?
Será que devemos abraçar o clichê de não reviver pendências?

Pode falar do outro,
você sente ainda falta, não é?
Ainda não seguiu adiante por isso

Insiste mais um pouco em se machucar
que mal pode ter em querer sofrer?
Quem foi o juiz que determinou
prazo de validade para se esquecer…

Eu sei o quanto você ama
mas não quero ser repetitivo
palavras de amor o tempo todo
cansam o corpo, a mente e a alma

Calma, não estou lhe cobrando
não há juros na vida,
não se preocupe com tempo perdido
o tempo é daquele que se sente vivo

Eu não peço que você deixe de chorar,
se é que você ainda tem essa vontade,
não precisa negar, não economize água.
Ela sempre volta à natureza

É da natureza de quem ama o sofrimento
simplesmente no momento em que se ama
apenas de um lado, é um fato

Ainda assim é amor, meu caro
ainda assim é amor, é seu amor
é o seu amor, mas o amor é seu
mesmo que ele tenha lhe abandonado
mesmo que ele tenha abortado
o amor puro que a ele foi doado

Você não foi doido por ter tentado,
ora, não fez nada de errado,
e essa dor que você sente…

Não adianta, não mente,
só a está sentindo
porque, no mínimo,
apenas o ato de tentar
valeu a pena

Espera aí

Espera aí, deixa eu tentar explicar
o que você viu não é bem assim…
A vida cria armadilhas
pra vê se eu quero mesmo viver

Talvez você nunca me entenda.
Talvez eu seja mesmo complexa
Talvez eu não queira ser entendida,
só vivo entendiada

Eu não inventei nenhuma história,
mas eu acompanhei a sua própria.
Talvez eu tenha feito errado.
Talvez eu devesse agir de outra forma

Mas quando eu fui pensar no mal
que estava fazendo a nós dois,
depois, não tinha mais jeito

Eu tenho consciência de que não sou
tudo o que eu gostaria de ter sido.
Nem tudo o que eu digo tem sentido,
mas boa parte desse todo,
talvez você, tolo, acreditou

Mas não que seja mentira.
Espera aí, não agrida
a nossa amizade dessa maneira.

Nem tudo o que disse foi asneira,
sempre há um fundo de verdade
nas minhas palavras

Desculpe se não estou sendo clara,
não é essa mesma a minha intenção.
Eu só faço alusão ao café e à música,
não que ela expresse o que me vem quente n’alma

Mas tem ajudado bastante a me manter acordada,
junto com as minhas rimas, reafirmam a coisa falha.
Errada fui eu quem aceitou você assim

Vou ter que assumir os meus atos algum dia,
devo começar primeiro na poesia a lhe dizer
que a culpa de tudo nem sempre foi minha,
há sua parcela também, mesmo que você não saiba

E se eu fico calada vendo o horizonte…
Não aponte o dedo em riste para me acusar
temos ainda muito o que conversar.
Eu e você (dentro de mim) precisamos do diálogo
ou eu jogo tudo pelo ralo do meu pensamento?

Eu quero convencer você que vive falando comigo
no íntimo, antes de todo poema,
para depois tomar coragem de trocar o café
e essas músicas de fundo do poço
por cair dentro de você de fato

E realmente eu não sei quanto tempo isso ainda vai levar,
quantas xícaras devo sorver com cuidado
para não me queimar com você

Mas eu vou beber, um dia
ainda bebo você, quente
um dia, eu bebo você

Embriago-me.
Mais dois dedos de você, por favor.
Não me venha dizer que acabou!

Camaradagem

A gente dá um tempo e volta,
três, seis meses, um ano
vício que retorna

Vou parar de você,
eu tenho força de vontade
sou eu quem manda em mim
com um estalo, sem alarde

O pensamento depois de um tempo
bate como pêndulo, eu quase,
quase acreditei que conseguiria
– e eu consegui pra falar a verdade –

E não tenho porque lhe aceitar de novo,
eu já consigo ser independente,
contente por não viver você mais

Mas pode vir,
eu permito mais de uma vez,
o magnetismo que nos puxa pela arte
explica esse sim,
camaradagem

Quero saber como anda
aquela energia que me tornou
poeta certa vez, até certo ponto;
Se ele anda fazendo versos bêbados
ou se está bêbado fazendo versos

Overdose de hormônios

Ainda tem o seu cheiro no meu quarto
Não é questão de saber a marca do perfume
O meu olfato ficou apurado,
do nosso encontro não saiu impune

É preciso ir além de simples borrifadas
A minha alma ficou calada
tentando identificar a combinação
de uma colônia com a sua pele

Entrou por minhas vias
como uma espécie de droga olfativa,
contaminando tudo por dentro

Desta química não quero me curar,
nenhum encontro anônimo,
vou mesmo me identificar
em overdose de hormônios

Essência

O seu perfume me embriagou dominante,
ainda o sinto forte na memória,
agitou todo o meu sangue,
despertando meu instinto animal

Você tem o cheiro de Campos,
das matas invadidas à noite,
e o seu hálito quente ao meu encontro
se deteve ao borbulhar nas minhas veias
o desejo da liberdade

Do ponto que nossos corpos se encontraram
em esbarrões involuntários e propositais,
a sua pele fina e macia em contato com a minha
fez carinho.

Não esperava tudo isso,
nem sabia ser capaz de potencializar
normas comuns do corpo,
– de humano tenho pouco –
— Sou Poeta —

Esta essência impregnada em você
tornou-se inconfundível a mim
como quem sabe reconhecer de longe
a pessoa que vem distante
capaz de me seduzir alucinante

Antecipação

Novecentos e noventa e nove poemas,
e quantos deles pra você, quantos?
O milésimo, o mais importante…

É pra você, o milésimo, marcante
escrevo fora de ordem, fora de hora,
você antecipou a marca, o ponto,
pronto, é o poder do coração

Visitar o futuro sem ter vivido o presente,
e falar de passado com você, ser condizente
com tudo o que já lhe disse, com tudo que preguei

Prematuro o rio desceu fluente,
entrou nos mais finos versos
sem pedir licença ao tempo
cronologia que não se respeita

Aceita o meu corajoso ato
de atender primeiro ao milésimo fato,
antes de outros oito calos poéticos

Prioridade para o sentimento sublime,
não há como deixar mais pra frente,
ele vem, o de número mil, assim mesmo
como quem não viu o papel que pegou

Empurrou, jogou pro canto
e eu espero que não cause tumulto
nem espanto, se ele for pra você
que merece outros mil tantos poemas,
despertou em mim outra fase de poeta
para renovar palavras não ditas d’alma

Sentinela da felicidade

Então vem assumir suas escolhas
não vou te prender nessa bolha de poema
você é bem mais do que pequenos versos
rimas que eu quero apenas guardar
pequenos fragmentos de você

Recomece vivendo cada momento
sabendo que ele é seu.
O tempo é seu, o passo meu
é apenas pra ficar do seu lado

Sentinela da felicidade,
nunca é tarde pra sorrir.

Acompanho você enquanto der,
se for pra te auxiliar,
a minha vida perto da sua,
e seja o que Deus quiser

Não quero nenhum obrigado
porque não faço nada que eu faço
para ganhar parabéns no final

Para você não há exigências
meu desejo apenas recomenda
sensatez para que você não sofra

Não me comova com lágrimas,
com nenhuma tristeza feita de descuido,
me desculpo a falta de guarda,
nesses tropeços do mundo

Poetinha

Eu só quero saber se o fato de você ter um rostinho bonito,
se é apenas isso que me encanta, ou se tem algo a mais.
Ainda tento descobrir qualquer outra característica
que me coloca à risca de não desistir de lhe ver.

Não sei se é toda a ousadia que você vende,
esse jeito louco com cara de inocente
apenas procurando se encontrar…

Não sei se é o fato de eu estar carente,
ou se é o coração querendo o controle
da minha razão pra dar vazão a um outro
rumo em minha vida, se for essa mesma a saída,
eu posso mesmo me deixar levar?

Você é só um rosto lindinho,
de um homem nem tão bonito assim,
apenas querendo me encantar?

Será que basta apenas a sua vaidade
para dizer a minha sensatez:
– Não precisa mais se imunizar?

Ou será que eu quero mesmo é essa brincadeira
para fazer uma nova forma de poesia,
reinventando o que por anos
pensei ter o controle?

Será que por você eu quis perder esse controle
ou talvez eu apenas tente invadir seu mundo
para buscar lá no fundo outras formas de viver,
sendo ainda sensato, mas corajoso e com cuidado
para não me perder de mim em você?