Antecipação

Novecentos e noventa e nove poemas,
e quantos deles pra você, quantos?
O milésimo, o mais importante…

É pra você, o milésimo, marcante
escrevo fora de ordem, fora de hora,
você antecipou a marca, o ponto,
pronto, é o poder do coração

Visitar o futuro sem ter vivido o presente,
e falar de passado com você, ser condizente
com tudo o que já lhe disse, com tudo que preguei

Prematuro o rio desceu fluente,
entrou nos mais finos versos
sem pedir licença ao tempo
cronologia que não se respeita

Aceita o meu corajoso ato
de atender primeiro ao milésimo fato,
antes de outros oito calos poéticos

Prioridade para o sentimento sublime,
não há como deixar mais pra frente,
ele vem, o de número mil, assim mesmo
como quem não viu o papel que pegou

Empurrou, jogou pro canto
e eu espero que não cause tumulto
nem espanto, se ele for pra você
que merece outros mil tantos poemas,
despertou em mim outra fase de poeta
para renovar palavras não ditas d’alma

Confinamento

Nunca recitei meus poemas,
ouvir minha própria voz
pronunciando minhas próprias palavras
ah, isso já é demais

Parece que ficando só no papel
estão guardadas, escondidas,
mas se eu as disser
vão correr até seus ouvidos,
e isto não quero

Ficando no silêncio da escrita,
lidas pela sua voz,
as minhas palavras são suas

Emitir os sons que trancafio nas letras
é dar liberdade condicional às palavras…
Se fosse essa a intenção, eu as falava
cara a cara, eu as diria…

Mas como sou poeta, que ironia,
quero que elas se eternizem,
perpetuem-se nas linhas,
caladas nas vias da fonação

Que qualquer entonação minha
não formalize o amor,
que ele não entre em formação,
não por mim…

Que ele parta de uma atitude sua,
na aguda curiosidade de saber
se os meus versos são seus
pela interpretação

Até que eu os confirme, ou não