Desconstruindo pessoas

E quando não se dava nada por alguém,
a doação total constrangeu,
e quem disse que o mendigo na rua
é coitado, a compaixão dele cedeu
a partilha do pão de ontem

E quando se achava um ser humano perdido,
perdido foi o ego ferido, quando ferido,
por aquela mão que se estendeu

E quando o cuidado necessário se fez presente,
mas o dinheiro não pôde bancar,
quem nunca foi cogitado se ofereceu sem centavos.

O idoso moribundo ainda pode cuidar das crianças,
a criança frágil e pequena diz verdades escondidas das outras bocas,
o jovem imaturo também ensina que a coragem não se ensina,
quando o sistema sufoca tantas adultos maduros,
o deficiente é servidor público que trabalha e não foge do ponto,
e o ponto final é só um blefe.

A vida nos pede a reincidência das reticências

Transbordo

Na dor, no sofrimento,
na aflição, lágrimas
Na plena felicidade,
água

Lágrima pra quem chora
de dor e de alegria,
água

Que benze e que lava,
que consome, transforma
a praga

Lágrima pra quem sonha e realiza,
pra quem só idealiza e não consegue.
Água

Lágrima que pede socorro.
Lágrima que agradece

Transporto e transbordo
a bordo da vida,
derrama o óbvio
o copo do Vivo

Última apresentação

Quando eu for embora do espetáculo da vida,
quando fechar a cortina e eu agradecer
quando eu me virar para a coxia,
não deixei a plateia, não deixei a vida

Quando a minha atuação se encerrar,
eu não prometo o bis, nem coisa inédita
de matéria perdida de arquivo,
quando eu terminar o riso,
levantem-se depressa

Não quero homenagem,
nem um livro de memórias,
ora, nem luto
para me manter intacto,
raso e falho,
errei a cena

Não deixa a angústia tomar conta
da bilheteria, fiz tudo que pude
não se ilude, ninguém é totalmente
aclamado pela crítica,
fechem as cortinas

Descortinem a idolatria,
perdi o foco, perdi a marca,
cansei de encenar até a graça,
perdi a direção da luz

Só treva no último palco,
última sessão da carne,
repetida que é
remake da vida trágica,
personagem uma vida mais

Una-vida

De braços abertos a vida nos recebe
felizes que somos, a vida prevalece
sorrindo constantemente

Temos coragem para aquilo que nos propusemos,
nós fizemos um acordo: nem sei se assim, secreto…
Nem tudo é sofrimento, nós vemos o que queremos,
lapidemo-nos

O planeta se coloca como um afinado instrumento,
escola maravilhosa para o crescimento, aprendemos
querendo ou não querendo, a escolha já fizemos
construiremos o mais limpo som, refinaremos

Os ouvidos, as falas, os atos e as atitudes,
os ciclos que a vida propõe são fatos,
inegáveis e caros para aqueles que não vêem

Aqueles que enxergam mais longe e mais lúcidos
percebem que a sabedoria da vida não tem hiato,
não existe nenhum vácuo para a dúvida, última
via das vidas e outras curvas, ensinam na hora
que o antes, ontem, o hoje, o agora e o amanhã,
depois, pois, cruzam-se em eternidade
um grande espetáculo de arte, vida-una

Fugitiva

A palavra
fugitiva
da minha vida
resolveu
entregar-se

Foi presa
pela verdade
dita, maldita,
sem papas na língua,
não foi covarde

A minha palavra
manteve quem vive mudo
em absoluto descompasso
cárcere privado de intenções

Transitada em julgado
foi absolvida de todos os crimes
suprimida a dor que a palavra causou

Ilesa, em legítima defesa
chocou os reféns do silêncio,
traumatiza quem dorme vivo,
sobrevivente falho
que em potência se coloca no atalho
do progresso que não espera

Na espreita das ações bem guiadas,
a rota traçada ao ouvido,
palavra, palavra, palavra,
posta à prova sem colete
à prova de balas, sem delito

Homem fobia

Vamos aos fatos
francos, profundos e aos rastros:
eu saí do armário,
no bom popular
baixo e vulgar

Mas não foi por você
e suas neuroses que eu
aprendi a amar
de alguma maneira louca

Não foi pela carência
que dizem que tive,
se tenho não sinto,
e se terei, não digo.
Sai da minha vida primeiro

Certo é que as confusões
que só você causa
deixaram de me afetar

Porque eu rasgo essa bandeira colorida
que me deram para carregar,
essa esterioptia que me aponta
o que eu não sou

Há sim o discurso homofóbico que mata,
mas também há a fala do discurso de ódio
que a vítima sempre carrega
jogando pedras em não se sabe quem

Retrógrado e culpado posso ser,
mas ainda quero te dizer
que reaprendi a pensar
nem tudo dá pra mudar,
mas eu mudei

Você eu não sei
até quando se vale,
abre o vale entre nós
com esse discurso pró-minoria
que cansa e causa apatia
porque fala, fala, fala
e agride com palavras
os iguais que você defende

A guerra dos sexos,
a luta de classes,
os homens de marte
estão livres de tanta
ladainha

Poema do orçamento público

I – 50

Merrequinha inflacionada
poucos mantimentos, quase nada,
quando você vê já foi embora,
basta minutos, sequer hora

II – 300

É começo de conversa do dinheirinho,
no mercado, ainda, o básico,
a metade da primeira necessidade

III – 800

É o cheiro do e no mínimo hipócrita,
não cabe defesa nem argumento,
se for ver bem, é mais linda manobra
do vintém

IV – 1.800

já não há tanto o que reclamar,
se souber aproveitar, bem que o aceitável,
conversa fiada, um chá, compras pequenas,
um mimo aqui, outro lá, bem de vez em quando,
calha de nomear ordernado

V – 3.000

E se me permite o comentário,
já dá pra começar um negócio simpleszinho
se a renda vier de um lucro bem administrado

VI – 6.000

Já se anuncia o empreendedor
com terno de segunda mão,
já tem cara de doutor,
ainda sem condição

VII – 15.000

Aqui a coisa muda,
se vislumbra pequenas economias
que, quem sabe um dia, será usufruto
da tranquilidade

VIII – 40.000

Já vem o capital itegralizado,
sociedade do comércio,
uma transição de requinte baixo nesses versos

IX – 80.000

É perfil do investidor de primeira ação
que pode abrir mão do hoje pelo amanhã
capital de visão

X – 150.000

É o ato dos pequenos fazendeiros
terra pequenina de rebanho,
pecuário dos sonhos,
da casa no subúrbio da praia

XI – 300.000

Já tem teor de importância,
apartamento distante do centro,
a filha já sonha com casamento,
apresentação social

XII – 800.000

Já vira prêmio de capitalização,
pra qualquer jogo de médio porte
que, com sorte, e muita sorte,
resgata um carro de pequeno porte
com laço de fita vermelha,
e mico de entrega no brinde

XIII – 2,5 milhões

Três meses fingidos de atuação,
supostamente trancafiados pela direção
de alguma emissora sensacionista

XIV – 5 milhões

Alguns órgãos ainda chamam de verba
para desviar dez por cento
pra conta de qualquer colega
por compra de voto

XV – 20 Milhões

É o primeiro passo de um orçamento
de uma mega empresa em expansão
que vende sonhos, mas cobra por ligação

XVI – 200 milhões

Já caminha pro aporte
descontrole de todo tamnho
são muitas mãos no mesmo cofre

XVII – 500 milhões

É a política pública mal feita
o cartel com a quadrilha de pilantras
que desde a planta do terreno já afunda

XVIII – 1 Bilhão

Orçamento geral de relevância
para doar casa popular aos montes
é a fábrica da cesta básica dos pobres

XIX – 30 Bilhões

Investimento do Governo Central
pelo aperto de mão em outro país,
já dá pra montar um circo decente
para os indecentes do País

XX – 500 Bilhões

É a obra pública bi-lateral
que já chama a atenção da mídia
internacional por alguns dias

XXI – 1 Trilhão

Majestosa pela própria natureza
és o gigante, colosso que ninguém domina
é a rima que ninguém entende
como pode tanta gente produzir tanto
e ver tanto não voltar pra gente?

Ao público

Eu sou servidor público prematuro.
Aos sete meses, já compartilhava a convivência pública incubadora
do público feminino, já solicitava o alimento materno alheio, de quem ama.

Durante toda a formação fundamental, contava com professoras para me locomover,
não há de se comover
Aos dezesseis, vida dedicada aos jovens e adultos, como eu, apesar de novo.

De novo, o retorno ao hospital:
mães que dormiam na recepção, e me ofereciam o primeiro bom dia,
dia nem sempre bom, com filha na UTI.

Ao telefone, logo depois, serviço público que iluminava,
contribuinte que se revoltava com a oferta precária da terceirização,
da pequena equipe que cuidava de grande extensão…
de uma vida que perdeu sua extensão em acidente

Serviço público aos deficientes como eu,
sem representação, Conselho falido
ainda que oficialmente Servidor

Fiz em Educação profissional pelo Trabalho, e Renda
acreditei na esperança do conhecimento e acendi esperança,
ascendi ao espaço Federal certo de mais uma passagem,
minha história: terceira margem do rio
transcendi.

Sirvo à vida,
poesia, sorvida

Outro nível

Os meus laços mais fortes são com pessoas de toda a sorte,
que não têm coração podre e nem caráter pobre.
Fiz amizade com gente aparentemente desimportante,
que não tem orgulho ferido, mas também não fere a gente

Fiz parceria de alma com pessoas humildes,
não tem gente do grupo dos grandes,
são pessoas que até se sentem pequenas,
que talvez duvidem da própria nobreza,
nem um pouco miúda

Liguei-me fortemente às pessoas que não podem me dar nada em troca,
que aparentemente não têm nada a oferecer,
são criaturas sofridas até, sábias dos valores,
são aqueles atores que entendem o valor cristão do pão na mesa,
e eu, o que digo?

Não tenho nenhum amigo que me facilite a vida,
mas, alguns, e poucos, que pelo destino louco,
acrescentam-me o progresso íntimo,
daquele carinho verdadeiro e profundo,
caminham aqui no fundo cheio de respeito e admiração,
amigos até de outra geração

Gentes

Tem gente que tem missão de paz,
tem gente que tem missão de amor,
tem gente que tem missão de força,
tem gente que tem missão de dor
tem gente que tem missão de dois,
tem gente que tem missão de um só
tem gente que tem missão de solução,
tem gente que tem missão de pé no chão,
tem gente com missão de sonho alto,
tem gente que tem sonho de sonhar de novo
tem gente que tem missão de sorriso no rosto…

Quem canaliza a missão vira poço
ponto, posto de referência e na ausência,
na falta da descoberta de sonho pelos outros
vira luz sem ciência
consciência sem contestação

Sem considerandos

Não suporto gente chata,
não suporto de imediato
quem se faz de coitado pra sobreviver,
não suporto, me falta paciência
para tolerar os extremos:
Quem clama piedade,
quem se sente na outra extremidade,
tão cheio de si

Não me tem acesso
os capazes de tudo se defender,
os que se acham perseguidos pelo mundo,
estilo de agouro permanente que não cessa na mente

Não suporto os ansiosos de plantão que chegam uma hora antes,
não suporto os atrasos sempre justificados de meia hora,
não me venham com desculpas, nem pra mais nem pra menos,
nem justificativas sempre plausíveis do relativismo

Não suporto quem não se ajuda
e acha que a ajuda dos outros tem que estar sempre disponível,
não insiste, que não dá em mim

Não há súplica na vida que valha o ouvido,
se também não se sabe fazer nada além de falar.
É isso: não tem pedido a ser feito se pode ser resolvido
e solicitação não cabe a terceiros quando o assunto é:
minha própria vida.

Gente chata
gente, chata,
gente…chata
chata! chata!
Cola na porta!…ria,
gente chata, coitada!
faça constar
e publica-se
sem considerandos

Braços abertos

De braços abertos
a vida nos mostra
que a qualquer hora,
quando o inesperado
se apresenta,
quem fechou uma porta
amanhã se lembra,
e espera, apesar de tudo,
seus braços abertos

Na espera equivocada
de que você se coloque com rancor,
o amor mostra que as mágoas
ficam na ilusão daquele que feriu,
em você apenas doeu, mas passou

E é por isso mesmo, por ter passado,
que o futuro tem mostrado que as coisas
reacontecem, pois a paz entre os homens,
quando cresce, evolui todos nós…

Interno

Quando outro homem,
apavorado, agitado,
intranquilo, eu
precisava mudar
para me permitir
o sossego daqueles que
precisam, de qualquer modo,
do silêncio que não perturba

Conturbado, sem a lucidez,
ácido, bem longe da doçura,
detectei o que me atormentava,
ataquei os males que me incomodavam,
e hoje, depois do esforço diário,
contínuo mesmo, incessante,
o alívio e a garra agora
são a coragem do tempo novo

Esse tempo novo tem sido recomeço
do amanhã, que desde então, desafia.
É um amanhã que não cobra o ontem,
que não joga na cara o quanto se deve
para a vida, que só deseja, adrenalina,
essa vida que cumpre o seu papel
e me perguntou qual o passo que eu dei
para a paz interior almejada num outro plano,
na ilusão do céu…

Indigestão de pessoas

Se eu vier a esquecer que somos humanos
e cometermos o grande engano prisional
do relógio, da hora marcada, do dia improrrogável,
da ocasião inquestionável, se preso nas vias da burocracia,
protocolo que não se retifica…

O ganho da condição humana, falha e necessitada,
que precisa não de brechas, mas do escape do imprevisto,
da flexibilidade daquilo que no processo não pode ser lido,
circunstâncias da vida, da vida de um individuo
que não cabe em matrícula, não cabe no número,
não pode ser o humano por banal identificação!

Se eu vier a ser humano de novo,
aquele que adoece, por menos ainda,
aquele que muda de planos,
em cima da hora quer fazer diferente,
não dialoga com o roteiro…
peço em nome da máquina pensante
um instante de humanoide,
por sorte, vou poder sorrir
nova mente….

Segunda impressão

Quem não me conhece
não me sabe, nem da metade
do que esse corpo passou,
das surpresas que a vida pegou,
julga sem saber, sem sentido
por me acharem sério e aborrecido…

O corpo reage diferente do espírito
que, mesmo maduro, não perdeu o carinho,
a doçura, nem o prestígio da companhia;
não jogou fora o dom da alegria,
a vontade de amar, a preocupação,
nem o apreço, o peso do íntimo

Quem não me conhece
não me sabe, não me percebe,
e eu, eu não peço a prece,
nem quero que você mude,
vou deixar você impune
de ter me visto, não culpo,
não, não, não…. Primeira impressão!

A segunda, a retificadora,
só pra quem merece, só pra quem sabe,
olhar os outros e ver pelo coração….

Amor ao ser humano

Meus irmãos,
vamos seguir em frente
porque há muito o que fazer,
há tantos a ajudar,
não podemos perder tempo

Temos, mais uma vez,
que insistir no estado de graça,
na paz entre os homens,
é o que mundo pede

Um momento de tolerância,
um pouquinho por dia,
o exercício da convivência,
o minuto da vida sadia,
eu peço a cada um de vocês

Ele é apenas o meu intermédio,
meu material de comunicação,
o bem que quero a ele,
meu interlocutor,
quero a vocês também,
companheiros…

Compulsividade de paz,
canal do amor,
estejam sempre disponíveis,
é isso que nós queremos

A porta entre os mundos se abriu,
transitem entre o aqui e o lá,
venham visitar o seu lar,
o seu ser interior.

Amor por todos,
isso expande,
isso nos une,
isso nos comove,
nos consome,
impulsiona!

Saiam da zona do tédio,
saiam da inércia,
movam-se no sentido do progresso,
peço, prego e proclamo,
amor ao ser humano!

Com alteração

Com muito esforço,
com gosto da luta,
a gente conquista
inimizades sem sentido
pela serena, mas severa conduta
de fazer a coisa certa,
por não abrir as pernas
para as más posturas,
vícios de contradição…

Com muito custo,
a gente entende,
compreende o processo,
mas ensina, com vigor;
que nem tudo a gente muda,
mas algumas coisas merecem alteração, sim…

Aos sensíveis ao espírito

Os sensíveis ao espírito
serão os mais atingidos
pela onda de ódio,
pelo grito dos revoltados,
sucumbidos pela ignorância,
atrevida e alienada

Os sensíveis ao espírito
travarão uma batalha
concorrente aos justiceiros,
aos descabidos

Aos sensíveis ao espírito
muito rigor no cento,
no que for bendito,
terão, então, a cabeça no lugar
os felizes companheiros,
adormecidos

Que espanto para a alma
acordar veementemente,
colocados à prova a honra,
pelos irados incompreendidos

Não se assustem companheiros,
meus irmãos mediúnicos,
esse clima de terror
não é culpa dos imundos

É você, que tomado pelos inoportunos,
cai na armadilha, da negativa,
descaso, e não raro, adentram energias,
aos moribundos

Não tema, companheiro constrangido,
se não entende que esses atos,
no final dos fatos, libertarão, quem sabe,
os mais astutos

Turbulência bem pensada,
de tempos em tempos necessária,
causa primária da evolução

Pelo sim ou pelo não,
aos sensíveis do espírito,
proteção

Comparsa do poema

Mais feliz
pela poesia
devolvida

Cara é a contrapartida
pede, agita, palavra;
bendita, mas exigente

Mais tarde
requinte
a quinta parte
de um apetite

Sabor repartido,
verso quebrado,
mas não divido

Mais feliz,
feito de energia,
palavra que rasga na medida
a vida

Mais cedo eu disse exigente
hoje, mais tarde,
não domino nem dominado,
fui recompensado

Má indole

Eu nunca te fiz nada
nenhum ato nominal
que desprestigie tua vida,
coisa e tal

Não sei porque me cansas
as tuas miudezas humanas
retrógradas sem esperança

Mas convenhamos que tuas energias,
teus mantras negativos,
castigo que não merecemos

Por pouco ou menos, nunca é demais,
ademais, pedir que se retire,
pois não careço de companhia de má índole

Qualquer mera validade do teu ego
não me inibe, nem te enobrece,
antes da prece protetora,
fecho a porta para o que ainda não me fere

Grand finale

Que eu mantenha viva
a chama da felicidade
porque qualquer problema pra mim
vale menos que a metade

Nada é eterno e doloroso,
o desconforto pode ser prazeroso
se encarado com naturalidade

Bem ou bem, tudo nessa vida muda
transforma e progride,
tolo é quem insiste nos mesmos hábitos,
transforma o ontem no hoje
e o novo hoje, vira um alarde

Sei que pra você eu sempre faço pouco,
bem menos do que eu poderia,
mas antes de ouvir a sua crítica…

Escuta a minha?

O meu passo não é o seu passo,
meu ritmo não é o seu,
se você pensa em dançar comigo,
ajusta a saia justa que você me deu

Dois movimentos sem alegria
de nada valem na harmonia,
não desenvolvem nem o grand finale

A arte da crítica construtiva será sempre bem-vinda
sem falso moralismo ou fantasia, mas também sem crueldade;
porque de falsos juízes a vida está cheia, de dedos em riste,
notas e conceitos, mas quem garante a adrenalina do sangue nas veias…

Não sabe que é o imprevisível que de fato incendeia!

Prezar

Devolvi
a grosseria
com carinho

Insisti
no abraço
primeiro

Resisti
à rispidez
com aconhego

Reconheço
que não é fácil
desenvolver apreço

Apelo
para quem castiga,
consciência na vida

Palavra que escapolhe,
maldita e pesada,
em contrapartida…

Afago,
nada de devolver
tapa na cara

Violência é coisa primária,
antes do animal, é canalha,
coisa do homem que pensa

Que pensa
que pensa,
prezar

Meus pesâmes
pro seu desprazer
que não sabe amar

Passo pós passo

Um passo novo meu corpo quer pisar,
firme e fiel, determinado,
mas um caminho abençoado e aberto
tem tantas, tantas ramificações

Ah, a estrada da vida tem tantas bifurcações
se uma fechar, ou se eu vier a incomodar,
prefiro outro rumo, sigo adiante,
desviando dos bloqueios imperativos

Se caminho fechado, se tomado por outro,
não brigo pelo mesmo espaço,
fica, fica na sua linha

A minha é um emaranhado de sentidos,
sinto não permitir o rito da discórdia,
sinto não obrigar o jogo para fora da estrada

Não há atalhos em nenhuma via,
mas eu recomeço enquanto você me vê voltando,
vou reconstruindo e recomeçando um novo rumo,
reposicionando os meus planos…

Caminho fechado, você perambulando…

Eu… Sonhando com o novo que vai me convidando
às esquerdas e às direitas a frente,
bem diferente… Um dia após o outro, passo pós passo…

Poema calado

Um poema
para a vida,
poema, minha querida,
para a tardia
reserva do ser

Um poema
calado, frio,
sereno, direto
quase oração,
encontro d’alma
com a ação, corpo

Um poema
no começo
no fim,
de mim,
um poema,
sempre

Para refletir,
um poema, um poema
delicado, pausado
e um poema, um poema
para juntar observação

Eu faço poema, poema
disfarce, que disfarce,
o que não cabe no poema,
o poema que se cale
no muito que ainda há de ser dito…