Deixe-me estudar a sua fisionomia,
cada particularidade dos seus traços,
cada detalhe das suas marcas de expressão,
eu não sou nem um pouco são!
Deixe-me detalhar cada caminho,
cada loucura que eu desdobro
apenas em olhar os olhos,
e ver sobretudo o mistério
É isso que eu quero de você,
um motivo de imaginação,
eu quero viajar nas minhas concepções
do que a arte pode fazer só na observação
Os seus olhos estão com um resquício de saudade.
Você tem chorado cada vez menos por quem amou,
mas ainda há calor que precisava ser externado,
um carinho que foi guardado e não se entregou…
Eu nem poderia ver tudo isso em dois olhos apenas,
parece até que quem tem mais olhos sou eu,
vejo fundo o que não deveria ver, desculpe a intromissão de ser
poeta, abusado, um transloucado de seus sentimentos
Cansa-me também divagar sobre atitudes que não me pertencem,
ah, como se simplesmente seu cruzamento de braços
pudesse me dizer que você não quis ir ao outro lado da rua,
apenas pelo gato preto com fome e assustado que ali estava
Acho mesmo que a loucura me consome, e eu fujo de tudo,
eu nem sei sequer seu nome, como posso falar de você?
E ainda me dão crédito, ainda validam as minhas andanças…
Certa vez olhei uma criança de colo, e previ com ousadia
que ela seria a agonia de seus pais simplesmente por ter,
traços de quem gostaria do mesmo sexo
Pode tudo fazer sentido, ou ser completamente sem nexo,
não fosse você também um mergulhador em meus loucos versos,
um apaixonado pela arte que arde da vida, da vida que arde na arte