Poesiará

Aqui é a sua casa, volte sempre
para a casa do poeta, poeme-se na hora certa
com meus versos rasos, flacidez da vida
versos esses, os meus, desafiadores…

Afiadores, suas dores têm reciclagem,
podem ser transformadas em paisagem…
Suas rugas, marcas profundas das experiências,
ah, paciência com os sulcos, beberam muito, muito
do pouco, do jogo rápido dos dias que passam
para todo mundo

Ah, os meus versos raros fazem você
lembrar de fatos, raros retalhos de memória,
agora, poeme-se, poeme-se eternamente…

Mergulhe fundo…

Afogue-se na dor de outrora
que deixou saudade e foi embora…
O que foi dolorido já não machuca a alma,
não está murcha, mas agradecida por ter vivido
os revezes da poesia também que se verbalizará….

Poetou-se, poeta-se, poesiará…

Casa da paralelialidade

Do tempo e do vento,
da distância ao livramento,
sensação do não-existir-momento
o nada é uma graça, reabastecimento

Do corpo, o copo vazio,
recipiente que transborda,
agora sabe que nada importa
já aconteceu o que não se queria

Mas, o hoje, mais hoje, mais um dia
o seu afago paralisa a correria
sem sentido, sem o fio da vida;
estar vivo como experiência

Não me canso das aparências,
de perceber as patéticas
impaciências humanas com o vago,
e eu aqui divago, falando o mesmo:

Quero ser o nada, o vazio que ninguém toca,
quero o que ninguém suporta de resposta,
um minuto de pausa dessa caótica visão torta do tudo,
um segundo de nada, de quatro letras que não dão conta
do que eu falo…

É o nada do outro lado da moeda,
não do tédio sufocante, mas outro;
a outra face; a outra fase do nada;
o significado escondido de muitos;
a terceira e outra realidade;
paralelialidade

Prato principal

Estou me alimentando
da sua poesia,
da sua música,
da palavra certa

Meu corpo reproduz
a energia que chega,
não dá pra viver
com a alma seca

Bebo seus versos,
seus meandros,
estou me alimentando
para matar – viver –
o significado da palavra

Ainda vaga, um doce,
palavra limitada,
prato de entrada,
cortesia na saída

Só quem ousa levá-la
ao prato principal – poeta –
morto de fome, vive respirando,
observa, constrói poema
e vai soprando,
vida quente.

Silenciar

Tem alguma coisa aqui dentro se agitando,
que incomoda, que desloca, que não se aquieta.
Sou inquieta, penso sem palavra, sem pronúncia…

O silêncio conforta, acalenta, sou louca
pela minha mente briguenta que na maioria das vezes
cala a minha boca, a minha mão, qualquer vão de expressão

E eu ainda quero entender o que é a arte
um diálogo com o mais profundo em mim
antes de falar do outro

Que sentir é esse que provoca
o enigma maior do eu, dos nós,
que nó é esse que não desata,
sem brecha nenhuma para o desenrolar,
sufoca, convoca a novas tentativas,
mas não me liberta, não sai de mim

E nunca vai sair…

Há quem diga: cena
outros: sina
Eu: sento e me conheço
sem me conhecer
escrevo

O que eu conheço de mim
não é nada na humanidade.
Se descubro um homem,
não descobri todos

O singular sou eu, individual,
mas eu não sirvo de amostra,
não sou útil em estatística…
Como linguísta também passeio na área
matemática

Sou ciência humana, sou palavra,
sou expressão da minha vivência,
minha própria marca registrada
é a forma como disponho calada
cada fala que um dia vai ser proferida
na leitura erudita de um poema
que não disse nada de mim nem de ninguém

É só arte que não cabe no só

Quando o poema acorda

Enquanto dorme o poema no meu peito,
enquanto respira um sonho tranquilo…
Feito por mim não foi ainda

Depois que despertar leve e suave,
o poema vai abrindo os olhos d’alma,
sereno e turvo, não sei qual palavra…

Escolha, acolha comigo cada verso,
recolha da cama o que vem amanhacendo!
É mais um dia que começa para uma nova estrofe

Com sorte a sensibilidade não tem nada de flor,
aflora em tudo, sendo um instante de vida nova
que vive enquanto o poema anterior já deitou
em todas as suas escolhas sintgmáticas
pra descansar eternamente…

Quando crescer

Na fase adulta do corpo pequeno
perguntam o que eu quero ser quando crescer.
Muitas respostas na ponta da língua
a confusão é certa, uma graça de artista,
que quer ser múltiplas coisas
quando a espera é a uma só resposta

Na fase pequena do corpo adulto
já não há resposta para o que eu vou ser amanhã,
eu já não sei quem eu sou, nem espero mudança…
Conformado com um passado que não realizei,
sei que não tenho resposta alguma para múltiplas perguntas..

Deus dará

Eu tenho planos que ninguém entende
a ambição não é coisa da minha gente
deixo passar uma vitória
para ter outras lá na frente

É perdendo que se ganha,
sei da cobrança, penso no futuro
eu abro uma mão hoje para usar as duas, assumo
as minhas vitórias e meus fracassos,
é tudo planejado

De vez em quando eu tropeço pra você dar risada,
mas a cara na poça d’água me refresca
para vencer eu não tenho pressa,
mas vale a máxima cautela
para aproveitar o melhor, quem me dera
Deus dará
para todos nós, Deus dará

Eu passo a minha vez, Deus já deu
para você, Deus dará
lá na frente Ele me presenteia de novo
Deus não vai me negar..

Cansei de mim

Preciso me reescrever
cansei de mim
os mesmos argumentos
os mesmos nãos
e os mesmos sim

Preciso me permitir
no plural, sair daqui,
cansei de mim

As mesmas músicas,
os mesmos artistas,
as mesmas calças,
as mesmas causas,
os mesmos gostos,
coisa batida

Cansei de mim
os mesmos estilos,
os mesmos toques,
os mesmos pratos,
os mesmos gostos
monótonos

Cansei do meu mundo
as mesmas idas
as mesmas vindas
os mesmos lugares
as mesmas poesias
em diferentes poemas

Cansei das mesmas críticas
a mesma vida, no mesmo horário,
os mesmos programas, os mesmos atos,
os mesmos amigos, o mesmo papo

Cansei disso tudo, estou cansado
os mesmos problemas, os mesmos dramas
os mesmos medos, os mesmos mantras
estou farto dessa coisa repetida
que ninguém repara, só eu

Cansei de mim, meus amores,
os mesmos tormentos,
as mesmas dores,
as mesmas preocupações
sou eu mesmo, uma mesma gente
cansei de ser eu, resolvi ser
indiferente…

Eis a vida

Vamos nós entregando a vida ao destino
do bem e do mal, céu e inferno, simples.
Vamos colocando limites vagos,
ditando tudo, o certo e o errado
pela moral e os bons costumes

Vamos escolhendo pelo que já está posto:
Teorias da existência de cada louco
que convenceu outros tantos outros
da veracidade do papel

Vamos, então, acomodados por baixo,
pelo pouco que nos foi dado,
opções de desgosto

Vamos cessar nossa mente
para novas outras possibilidades
por medo, terror das divindades
tão bem instaladas socialmente

Ignorando tudo o que está colocado,
amostra dos coitados condenados,
vamos fingir que nada disso existe:
O que você poderia dizer sobre a vida?

Fora aqueles que levantaram suas teorias há milênios,
pelos quais você fundamenta a sua opinião há décadas,
quem mais hoje tem coragem de pensar além, há novidade?

A novidade é apenas uma velha amiga
daqueles que pensaram antes de nós
e nos convenceram além-tempo-da-carne

A novidade é apenas uma velha amiga
daqueles que se acorrentaram na preguiça
e se convencem que as dicotomias são o ponto final

A novidade que foi trabalhada eras antes
é a mesma que ainda incomoda lá no fundo
sem os panos loucos da consciência já construída:

Eis a vida: ?

Tapa na cara

Eu não gosto dessa palavra: Deus
não gosto mesmo, desculpe.
Já está carregada demais,
falam tudo, defendem tudo
do amor ao ódio, à morte,
à perseguição: Deus

Chega de manipular essa palavra.
Eu sei que dentro de cada um
há uma luz quando a gente nem sabe
se tem um túnel pra ter fim.

Eu só sei que o otimismo exagerado
é diferente da realidade, não se iluda.
Ninguém contou que o milagre chegaria,
até a mudança maravilhosa precisa ser construída.

É muito simples arrumar desculpa para tudo,
colocar uma pedra a mais no caminho
para dizer que a culpa não foi sua.

O fracasso dói mesmo, machuca,
mas tem gente que o persegue,
tem tendência para sofrer,
um mau gosto horroroso pela vida

Não precisa se envergonhar de cair em si,
se você mesmo não sabe o que quer da vida,
ninguém vai oferecer a solução, nunca

Isso é uma busca sua, ou não…
Já que prefere o pessimismo irritante,
olhar os espinhos, sem saber que
isso não é uma metáfora para as teorias
motivacionais humanas

Não é querer colocar um sorriso de esperança,
não vai resolver, só amenizar, empurrar
para depois uma angústia que a maioria possui

Não seja ridículo, por favor
toma conta do que é seu por direito:
Só a sua vida, faça por ela
o que ninguém faz por ela

Cansa ouvir o tempo todo
a mesma lamentação de sempre,
e nada tem mudado esse tempo todo

Não é somente uma questão de crer,
e quem vai deixar de desejar dias melhores?
Quem é louco a esse ponto?

Prática, perseverança, ah, disso…
Você desiste fácil, não é verdade?
A primeira pedrinha já é uma montanha!

E aí vem a oração fabricada,
a lamentação na ponta da língua,
a vida que não anda…
Deus já está colocado em dúvida,
logo você que se diz tão devoto!

Ninguém sorri vinte quatro horas.
A vida não é um mundo perfeito,
um arco-íris maravilhoso
o tempo inteiro

Por que pra uns a força,
o entusiasmo, a garra
nunca cessam?

É um toque mais forte?
Será que Deus carrega
alguém no colo e deixa
outro andar a pé?

Não tem mistério para a felicidade:
Fé sozinha não basta, coloque em prática!
Sinta na carne as porradas que a vida te dá,
aceita suas falhas sem culpar ninguém,
modifique-se com atitudes e humildade

O mar de rosas é uma farsa
que a sua inveja inventa
para justificar as vitórias dos outros,
e as suas, coitado… tadinho, cadê?

Cadê a vida na sua mão,
a confissão do seu erro, esqueceu?
Será que evoluir é uma questão de sorte?

O sol nasce para todos, a lua brilha pra todos…
Ninguém nasce com a bunda virada pra lua
porque todos nós recebemos a mesma radiação…

Sinto muito se ninguém pega os seus problemas
e diz: vem cá, vou resolver pra você um por um
porque estou com o tempo sobrando, com os meus já resolvidos

Poupe a vida das suas ladainhas, desse chorinho
infantil e ridículo que não te tira do lugar, ah,
sei lá quantos anos, não é?

Você vai ser perseguido, sim, sinto muito.
Vão querer puxar seu tapete várias vezes,
o tempo todo, todo dia, querido!

Isso não é uma guerra, ninguém vai voltar
e acabar com todas as suas lágrimas do dia pra noite.
Você mesmo que tem se açoitado com ilusões,
com esperanças infundadas e conformadas,
confortáveis aos acomodados…

A quem interessa saber, a realidade está aí,
para todos nós, sem privilégios.
Tem quem encare, tem quem se esconda
com medo de levar na cara hoje
pra sorrir amanhã!

Chapéu de palha

Não preciso bater tambor
pra chamar pajé, não necessito
de um cabouco, preto velho

Energia está no mundo
dela vibra meu corpo,
protege o todo

Categórico e certeiro,
preciso e exato,
não à essência e tabaco

Fumaça não chama espírito
tão pouco os gritos evangélicos
Fogo quem apaga é bombeiro

Sensibilidade não precisa de casa,
não está em estante me esperando
Está aqui agora e eu não estou fumando

Maria padilha não me chama,
não me provoca, oferenda,
nem qualquer preto velho
José do candomblé

Está tudo solto em um mundo
com tantos níveis, não preciso de jogo
Não preciso mascar palha pra fazer milagre

Espírito da arte

Eu vi o espírito da arte
que paralisou o corpo,
que tocou a alma

Eu vi outros olhos
concentrados no nada
e no tudo, que é a vida

Eu vi o espírito da arte
que colocou homem em outra dimensão,
que cuidou do ser nesse espaço

Eu vi o contato com o além
que ninguém lê, que quase ninguém vê,
que raros tocam, mas ela tocou

Ela estava fora de si
dentro de si, estava
dentro de mim, fora daqui,
fora de mim, eu apenas observei

Eu vi o espírito da arte,
absorvi parte dele
que ela sabe que tem

Eu vi o espírito da arte
e contei para o mundo
eu contei um segredo

Eu vi o espírito da arte,
fiz fofoca pela arte,
faz parte, parte de nós

Depois que morre fica tudo aí

Depois que morre fica tudo aí,
não adianta chorar pelo defunto,
não tem nada de luto, acabou de partir

Paletó de madeira, pensou muito, deu bobeira,
a vida passou assim, pensou que era brincadeira,
caiu na besteira de achar que tinha tempo

Pra quê? Que tormento, acabou seus momentos,
a vida não é passatempo, passa rápido,
e você, que fiasco, virou muquirana, deu um de bacana,
preocupou-se com tudo, não conheceu o mundo,
mas fez a viagem, estamos aqui de passagem,
coisa curta é a vida, capricha no caixão,
seu dinheiro, levou pra onde, patrão,
sete palmos ao chão

Pensou que teria casa no subsolo?
Morreu com remorso, não tem mansão,
não tem gaveta, não tem ilusão,
a família briga pelo que sobrou
enquanto pra você acabou

Depois que morre fica tudo aí,
o carro de luxo, o telefone mudo,
deixa na caixa postal que foi ladrão

Mas o celular não é seu,
querem dividir a herança
seu tempo de bonança
ficou na lembrança
dos infortunados

E você, pobre coitado,
morreu, deitou em espuma qualquer,
economizaram um pouco o que você guardou feito louco
– e defunto precisa de conforto?! É tudo igual! –

Vai decompor, não adiantou o título de doutor
nem de barão, afinal de contas vai cair na escuridão,
depois que morre fica tudo aí, tudo aí, para usufruir

Coisa que você não fez, fazer o quê?
Depois que morre fica tudo aí,
depois que morre fica tudo aí
fica tudo aí, depois que morre!

Caído na vida

Sou seu anjo de asas cortadas
caindo do céu em disparada
pronto para me acomodar nos seus braços,
tratado como ele ou como ela, não machucada

Doce, simples essa alma pura materializada
soube muito tranquilamente da lição requisitada…
Alma pura, coração é uma convenção limitada
esse ponto de luz que dele ou dela irradia,
energia abençoada

Toque leve, suave e delicado,
não precisa de prece,
já não se pede intermediários

Nos exemplos é que se tece
milagre pela coisa amada…
Que amor seria esse de um anjo
tão perfeito, ainda quer complemento?

O amor é um julgamento dos homens,
tratamento equivocado, anjo não precisa
de amor, ela não precisa;
Mas ele aprendeu a dar amor,
caído na vida

Segue Comigo

Para professora Vania Bernardo da disciplina de Linguística I do curso de Licenciatura em Letras/Literaturas, Instituto Federal Fluminense, primeiro período letivo de 2013.
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Eu tenho uma meta de vida que Deus guia
põe a Mão por cima e diz: Segue,
sua luta Eu acompanho,
você faz parte do Meu rebanho,
Vou proteger o meu amado filho
porque ele tem sido digno de proteção

Luta, segue adiante, não desanima,
Estou na frente, protejo você
de quem não quer nada,
sua vitória está selada
porque Eu vejo seus passos

Sei que seus atos condizem
com Meu desejo, aceito
que você descanse em meus braços
porque apesar de não ser feito de aço
coloca-se na frente quando Eu convoco

Filho amado, comigo siga,
agradeça pela vida e pelo coração,
vou segurar na sua mão, e se preciso for
Eu pego você no colo
porque enquanto perceber que você
diz: Oro com convicção, Eu sei,
no fundo só Eu sei,
a que Rei você recorre!

De graça

Não se esqueça que eu te amo de graça
por favor, não empata o que eu sinto
procurando algum motivo que complete
a minha boa vontade de estar aqui

Eu sei que é estranho dizer
que eu quero você sem explicação
não preciso de um motivo,
não sou nenhum fingido em solidão

Aceita que eu te quero por perto
eu não te venero por condição,
sei que todo mundo espera
a hora certa pra pedir uma paixão

Mas aí quando ela chega, puxa uma cadeira,
senta ao seu lado, não precisa tomar cuidado,
não sou ladrão, nem cantada eu faço

Não se esqueça que eu te amo de graça
não há nada que eu faça querendo algo em troca,
troca comigo apenas o que você sente no ato,
não busque nenhum lado, nem teoria

Se eu não me sentisse bem fazendo o que eu faço,
certamente não estaria ao seu lado sem obrigação
sou espontâneo de qualquer jeito,
a vida me deu esse defeito
de ser sincero de fábrica

Não procuro por nada, por nenhum crédito,
nem agora, nem depois, não propus em momento algum
uma dívida com você

Eu te amo de graça, não se esqueça,
o que quer que aconteça, eu não te cobro
de nenhuma maneira, sob nenhum modo
vou doar o que eu puder, me desprender, sim

Não te dou nada rasgado, remendo não é coisa minha,
sentimento puro e embrulhado pra você abrir a caixinha
é um presente selado, não tem preço, mesmo,
não é mercadoria

Eu te amo de graça e não tem nada,
absolutamente nada que você precise trocar
aqui está a dose perfeita, a forma perfeita
pra você utilizar sem validade

Separados

O bem e o mal não existem
por que vocês insistem
nesses dois polos?

Sorte ou azar,
vida ou morte
já não dá mais
para acreditar
em duas metades

Chega de dividir
o amor não é assim,
não dá pra separar

Quem inventou o corte
desferiu um golpe ao todo
acreditando que a manipulação
evidente convenceria até os
descrentes dessa ficção

Por que aceitar apenas
um lado dos fatos
se os atos são um só?

Quem colheu para o bem?
quem plantou para o mal?
Quem recebeu o sinal
de um dos lados?

Há escolha, por quê?
Por que temos que defender
um lado da razão?

Poupem-se de batalhas mentais
isso não dá mais pra acontecer
é pedir pra permanecer parado
quando o mundo de fato já não
pede mais um vencedor

Nunca houve nenhum derrotado, por favor!
Não busquem condenados, esse jogo acabou!
Não teimem em metades que se completam
quem foi que separou?

Junta de novo, retorna à totalidade
não existe maldade nem o inverso
não precisam abrir mão de uma coisa ou d’outra
que coisa louca, viver não cabe na caixa da mente,
chega de guardar tudo em recortes, acordem!

História

A semente do livro foi plantada,
coisa rara esse meu pensamento
quero tratar de amor em história,
um romance, a ideia vem crescendo…

Versos breves de quem vai se arriscar
pelas linhas corridas, pelos parágrafos,
um dia, quem sabe, as minhas palavras
dispostas de outra forma também não encantem…

Agora não há pressa,
cobrança do tempo, não interessa
vou aprofundando esse desejo,
começando pelo lampejo de como
almejo fazer isso de forma inovadora

Seis anos se passaram
meu pensamento é quase automatizado,
construo versos até falando,
mudança de hábito vem se ajeitando

Preciso ceder, uma vez na vida
fui vencido pelos meus poemas
seria hora de férias ao poeta?

Ajudante

As tuas bênçãos, meu Pai, agradeço!
O apreço que tens por mim, agradeço!
Por ter me dado muito mais do que mereço, agradeço!

As minhas recompensas, agradeço!
Por teu zelo, carinho, agradeço!
Por confiar a mim tantos desafios, agradeço!

Por me motivar, me dar força,
por fazer de mim vitorioso, agradeço!

A propósito Pai, sei que demanda
sob mim as tuas vontades,
mas não tens me isolado,
pelo auxílio, agradeço!

Sou guiado por ti, meu Pai,
nada mais; Me leva,
eleva a Ti, por mim,
permito-me.

Pai, em mim apenas a certeza
de que sem ti não poderia
nem mesmo metade do que me propõe

Agradeço por me dar condições
de a ti ser devoto,
obrigado pelo voto de confiança

Por me abrir portas sem pedir duas vezes,
por tocar quem precisa me dar passagem
por me permitir seguir por ti,
agradeço por ser assim, seu ajudante

Sem honras, sem fantasias,
mérito apenas de tua boa vontade
para fazer das minhas necessidades
apenas te servir.

Transfiguração

Coloco Deus na frente
e os aliados me cercam,
iluminam minha mente,
tirando-me das sombras

Parado não fico,
sou útil e vivo
me preparando
para as coisas do bem

O caminho é intenso,
não dói nenhum momento
as muitas tarefas propostas

De resposta o meu corpo
coleciona apenas cansaço,
mas minha alma não se importa,
diz que sou feito de aço!

O espírito agradece,
o conhecimento enriquece,
liberdade que emocionada,
transfigura o corpo,
enaltece a vida
que transborda!

Mania de perseguição

A sombra dá medo
era alguém escondido
querendo lhe assaltar

O colega de trabalho fofoca
sobre uma atividade que não lhe compete
e nem lhe interessaria

O amigo é falso, traidor,
se indica pra uma promoção
mas pede segredo a sua companhia
para lhe inscrever

A caixa do supermercado, implicante,
passou uma lata de ervilha
duas vezes, sem querer, de propósito

O semáforo está sendo consertado
em hora indevida só pra atrapalhar
a sua ida pra casa

Até o banco vinte e quatro horas
parou de funcionar pra lhe prejudicar,
não importa se o estabelecimento fecha
vinte e três e trinta

Se a gasolina sobe,
não é falta de sorte,
o dono do posto
não foi com a sua cara

Se o garçom não passa na sua mesa,
nunca mais volta no restaurante
pouco importa se ele está
sozinho no trabalho,
por causa de outro colega que não veio,
estava com a mãe no hospital

E não interessa se até a chave de casa
não está no seu bolso…
Culpa do seu amigo que lhe distraiu,
ao apertar sua mão e ir embora,
esqueceu que naquela hora
a chave ficou em cima da mesa do bar

Mania de perseguição, loucura!
Tratamento nessa altura do campeonato
não seria também causa de punição?

Rebelião

Hoje eu não vou atormentar ninguém,
estou atordoado em mim, e isto fica comigo
não vou passar nenhum problema a pseudo-amigos,
não mais

Cada um que resolva o seu próprio problema,
e que responda o seu próprio dilema,
coisas de quem vê vários dias banais

Esgoto aqui qualquer tentativa de compreensão,
coisa pouca, ou não, para quem quiser me decifrar,
se é que vale a pena tanto esforço

Se eu feito louco já escrevo no automático,
dando vazão quase que sem filtros ao pensamentos,
nem tanto assim límpidos que desejam falar…

E a quem quiser maiores detalhes, não me indaguem,
não perguntem, deixem a curiosidade de lado,
esse é apenas o momento vago para deixar a mente vazia

Sem qualquer ironia, apenas para dar liberdade
a tantas e tantas palavras que se juntam,
cansadas do aprisionamento

Fizeram rebelião na minha mente
para reivindicarem a luz das ideias
materializadas no poema!

Confessionário

Para Analice, professora de Teoria da Literatura, Licenciatura em Letras, primeiro semestre do ano letivo 2013.1, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

**********
Eu gostaria de saber quais palavras usar para esse poema.
Falta a palavra ideal, a pontuação correta,
a entonação no papel para este poeta.

Tudo deixou de ter ordem agora, e isso inquieta.
Talvez seja esse o princípio da inspiração, ou não.
Este congelamento de como dizer, vem de antes.

Porque a inspiração já é um estudo esquematizado
do que a alma expressa, já há um conceito.
Aqui não existe tentativa nenhuma de lucidez.

Nem mesmo na escolha de verbetes.

O dia em que se cala o poeta,
em seu próprio poema,
é o dia em que ele se rende
a sabe-se lá o que, ainda não inventado.

Um sentimento tão forte, e tão desconhecido,
que seria audácia do instinto de escrita,
até mesmo para ele, colocar isso na roda.

Nesse momento a sensação que se tem,
se me permito então qualquer alusão
ao que está terreno, tocável, seria:

Duas torneiras que se abrem,
e a medida que se desce o elevador,
cai uma gota no interior, morando a essência,
e uma gota mora nos olhos, mas não cai

É a emoção no encontro, no ponto…
O oceano que transborda por dentro
não tem a mesma água do mar que salga o olhar

O dia que se calou o poema,
que se trancou o verso no inverso
do desconhecido, calou-se qualquer sentido
de escrita, porque ela limita – muito –
o que se sente, e o que se pinta na sua mente

A palavra agora deixou de ser companheira confortável,
para ser qualquer outra coisa que coça, que provoca,
qualquer outro sentido disperso,
dispenso qualquer nova loucura de dar rosto a essa bela criatura
que não se diz poeta, sendo poeta sem palavra alguma

Afinal, para calar o poeta das palavras
é preciso a poetisa dos sentimentos
que desperta no primeiro o desejo
de capturar a segunda de algum jeito

Ainda não disse tudo:

Não sei se por conta
da delicadeza, jovialidade de espírito,
não sei se o assunto contribui pra isso,
mas querendo ou não, merecendo, ou não,
há naquela que cala o poeta a chave

A autoridade suprema de destravar
duas possibilidades de ver o mundo:
Aquele que toco, que vejo, que recorto em palavras;
E aquele que eu não me lembro, está intocado pela matéria,
por tantos eus poéticos, por mais que se tenha mil personas,
não alcanço o que me trouxe até aqui, o que me fez ser assim,
nem consigo dizer até onde tudo isso deseja me levar.