Retirei meus óculos
pela perna direita rapidamente,
cruzei-as sob a mesa e pisquei
Pisquei duas longas vezes
contemplando meu pensamento:
Eu via o que eu pensava
ganhando forma, tocando as pálpebras
Mudei de verso e de poema.
Não escrevo do mesmo jeito.
A dor amadureceu em meu peito
e como filho que a gente carrega
e só agora se dá conta da deficiência,
eu posso falar de verbo aberto e limpo:
Não tenho nada contra meu par de olhos falsos,
tenho enxergado muito bem a vida com eles,
mas é sem eles que me dei conta, patético,
das verdadeiras visões da vida
Estou aqui sim, me desculpe,
se você gosta da mesma pessoa que eu.
Olha pra mim
Olha pra mim
Olha pra mim
tira os óculos também,
mesmo que você não os tenha.
Olha pra mim
vamos, olha pra mim.
Olha bem no fundo de mim
Eu também gosto dele.
Olha ele por mim
cuida dele por mim
que eu vou me ausentar.
Olha ele em mim
que quando eu olho pra mim
só penso nele
Coloco meus óculos de novo.
Dou três piscadas profundas
Eu, ele e você
vemos o mesmo sentimento, o amor
Olha pra mim de novo
Olha pra mim de novo
Olha pra mim de novo
Estamos conversados